Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
É um acerto combater a ditadura do vandalismo
SÃO PAULO - Quando Nova York proibiu o fumo em bares e restaurantes, nos idos de 2003, houve muita gritaria. O prefeito era Michael Bloomberg, que não se apertou. Numa ida ao cinema, lembrou que anos antes as baforadas se misturavam com a pipoca. Argumentou que as coisas evoluem e todo mundo se acostuma. "As pessoas vão olhar para trás e dizer: 'Permitiam que se fumasse naquela época? Que arcaico'."
São Paulo também sabe como é difícil mudar o cotidiano. Foi assim com o cinto de segurança obrigatório. Com a lei do fumo. Com o fim dos outdoors. Com a fiscalização da faixa de pedestres. Com a implantação das ciclovias. Todas essas medidas, de diferentes governos, "pegaram".
A cidade é tão degradada que o paulistano se acostumou com a pichação. Mas qualquer um que já tenha tido sua casa rabiscada há de ter dificuldade em defender o autor. Por que a estética dele se sobrepõe à de quem pintou uma fachada? A liberdade de expressão vale para todos. Espanta que a prática seja defendida por quem diz respeitar as diferenças.
Essa ditadura do vandalismo precisa ser combatida com a lei e os meios tecnológicos disponíveis. Ficar com medo de agir "porque vão pichar de novo" é atitude covarde.
João Doria acerta no propósito.
Erra no método, porém. Precisaria ser mais claro em atacar a pichação, não o grafite. É direito de um governo determinar que equipamentos públicos tenham tal aparência, mas os grafites compõem marca cultural da cidade, em geral despidos do caráter furtivo da pichação. Seria papel da prefeitura debater antes de apagar geral. Tampouco deveria engordar a discussão com argumentos estéticos pessoais, como faz o prefeito.
Reportagem da Folha mostrou que houve um tempo, nem tão distante assim, em que a campanha política era feita com pichações. Algo difícil de conceber nas regras atuais e sinal de que tudo pode evoluir –inclusive os políticos e os pichadores.
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