Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
Aécio e os serial killers
Sergio Lima/Folhapress | ||
O senador Aécio Neves, em sessão do Senado nesta quarta (18) |
SÃO PAULO - O caso Aécio Neves arrepia até quem já se acostumou com o baixíssimo nível da vida pública.
Fosse a política brasileira um filme de terror B —ou vai ver é mesmo, algum dia seremos oficialmente informados—, os diálogos envolvendo o senador brilhariam no trailer.
As falas gravadas pela polícia são dos momentos de maior intensidade da trama. Incluem conversas sobre um suposto empréstimo de R$ 2 milhões em dinheiro, indicações para empresas, ofensas a políticos, tudo versado em português pouco castiço.
Entre as frases que o diretor poderia pinçar está o momento em que Aécio diz a Joesley Batista, dono da JBS: "Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação". Que sentido poderia ter essa frase além de uma coisa nada boa? Difícil intuir, pois as manifestações de Aécio nos cinco meses deste escândalo foram enxutas, como o pronunciamento de dois minutos desta quarta (18).
O senador pelo PSDB de Minas se diz indignado. Mas esse tal sentimento não se converteu na dignidade mínima para que ele —ocupante de cargos eletivos há 30 anos e segundo nome mais votado à Presidência— aparecesse cara a cara com jornalistas em uma entrevista coletiva e respondesse a perguntas.
O que pode reservar o roteiro a um personagem assim? Investigações contra parlamentares levam em média mais de sete anos no Supremo, prazo convidativo às prescrições. Os pares do senador são justamente os que o consideraram apto a continuar na Casa. O presidente interino do seu partido, por sua vez, acredita que ele pode exercer cargo público, mas não o comando da sigla.
Diante disso, entende-se por que o juiz Sergio Moro recorre à ficção para defender a prisão preventiva de suspeitos de corrupção. "Podemos fazer uma comparação com uma situação que vemos muito no cinema: casos de serial killers. Não vai esperar ele ser preso até o fim do julgamento para que haja uma nova vítima", afirmou à GloboNews.
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