Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".
O cercadinho de Haddad
SÃO PAULO - Haddad trata os viciados da cracolândia ora como excluídos, que só precisam de uma chance para largar a droga e se reintegrar à sociedade, ora como sujeitos a serem excluídos por atrapalharem o direito de ir e vir dos demais.
Em janeiro, com expressão de dever cumprido no rosto, o prefeito comemorou o "sucesso" de sua política de "respeito" aos craqueiros, por meio da qual passou a oferecer emprego (R$ 15 por dia) e moradia em hotéis aos usuários de drogas. "Em apenas dois dias conseguimos mudar a cara da região", disse.
Quatro meses depois, sem fazer expressão alguma, uma vez que não apareceu para anunciar a decisão, o prefeito resolveu colocar os dependentes em um cercadinho para liberar a circulação na cracolândia. "Não estamos prendendo ninguém, apenas dando espaço para quem deseja usar a calçada ou a rua", disse Roberto Porto, secretário municipal da Segurança Pública, à Folha.
Mais do que uma crise existencial, a contradição reflete uma administração que não sabe muito bem como sair da enrascada em que entrou ao dar a entender que poderia resolver o problema da cracolândia tornando o dependente químico o sujeito da sua própria superação.
O tal programa "Braços Abertos" parte do pressuposto de que a exclusão social é a causa, quando, frequentemente, é a consequência do uso do crack. Recebendo, então, moradia, comida, carinho e emprego, o viciado reuniria forças para enfrentar espontaneamente um tratamento médico e largar a droga. Quem tem um filho, parente ou amigo com essa doença sabe bem que as coisas não são tão simples assim. Dar dinheiro para viciado apenas facilita o vício.
O fato é que o salário pago pela prefeitura não apenas inflacionou o preço da droga como visivelmente trouxe novos usuários para a cracolândia. Além disso, muitos dos contratados não cumprem a jornada de trabalho. Haddad, prefeito zeloso, agora ameaça demiti-los.
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