É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.
Brasil, potência espiritual
Sabe qual é um dos cursos mais procurados do MIT Media Lab, instituição que é um dos mais importantes centros globais da inovação? O de "Princípios do Autoconhecimento". Quem o ministra é ninguém menos que Joi Ito, diretor do MIT Media Lab e conhecido investidor de risco, que apostou logo no início em empresas como o Twitter e o Kickstarter.
O curso trata de temas como meditação, "fronteiras entre o eu e o outro", "não dualidade" e assim por diante. Na bibliografia, há textos do dalai-lama, Martin Buber e Hegel.
Inovação e espiritualidade (religiosa ou não) sempre andaram juntas. O próprio Vale do Silício tem sua origem ligada à contracultura dos anos 1960. Steve Jobs é exemplo disso, adepto de práticas "alternativas" que ditavam seu comportamento e dieta.
Ou, ainda, Timothy Leary, escritor e psicanalista que estudou (e consumiu) a fundo o LSD. Ele é considerado pioneiro da ideia de "realidade virtual". Acreditava que a tecnologia sucederia as drogas na criação de ambientes artificiais para a existência humana. Estava certo. Neste ano, a aposta da indústria de eletrônicos para consumo são justamente dispositivos de realidade virtual, mercado que já movimenta bilhões. Leary estaria hoje orgulhoso de sua previsão.
Se em inovação nosso país é capenga, no campo da espiritualidade o Brasil é potência global. Um exemplo é a recente visita da artista Marina Abramovic -uma das personalidades mais conhecidas do fornido mundo da arte contemporânea-, que circulou pelo país realizando um documentário sobre nossas cidades místicas. O documentário é hoje um dos raros produtos mainstream a apresentar o país no exterior sob uma luz positiva.
Tudo isso mostra que precisamos de um olhar mais sofisticado para nossa potência espiritual. Um dos desafios de qualquer país atualmente é atrair talentos globais.
Nossas cidades espirituais já fazem isso. Da mesma forma que o festival Burning Man tornou-se a Meca "new age" do Vale do Silício, nossas cidades místicas são polo de atração para programadores, designers, investidores, empresários e "criativos" de modo geral, sem que nos demos conta disso. O circuito é amplo: São Lourenço, São Tomé das Letras, Sete Cidades, Visconde de Mauá, Abadiânia e assim por diante.
Um exemplo forte desse potencial é a parceria que o governo de Goiás fez com consultora McKinsey e o guru Sri Prem Baba para construir em Alto Paraíso de Goiás uma cidade sustentável, dedicada ao autoconhecimento e à promoção das 17 metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
O objetivo é transformar Alto Paraíso de Goiás em referência global em inovação e sustentabilidade, com a construção de um centro de pesquisa agrícola, um de tecnologia e inovação e posteriormente um campus universitário. Tudo puxado pela incrível capacidade de Prem Baba -criador da Fundação Awaken Love e hoje um líder global- de atrair talentos e empresas para o seu entorno.
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