Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.
Polêmica na lancheira
Creio que muita gente acompanhou ou soube de uma polêmica nas redes sociais que envolveu Bela Gil, nutricionista, orientadora alimentar e apresentadora de um programa de culinária natural. Ela postou a foto da lancheira que a filha levaria naquele dia para a escola.
O lanche era composto de granola caseira, batata doce, banana da terra e água. Para muitos adultos, a merenda não parecia apetitosa para uma criança. Ocorreu, então, o que temos visto com muita frequência: ataques e defesas. Ponderação? Quase nenhuma.
As críticas sugeriam a substituição do que foi mostrado por petiscos industrializados, doces, sucos e refrigerantes, uma vez que esses alimentos são considerados mais atraentes para uma criança. Vale a pena pensarmos sobre esse fato e tentarmos entender alguns pontos que estão por trás dele.
Enfrentamos, no Brasil, uma grande contradição: se, por um lado, conseguimos superar o baixo peso infantil –apenas 1,9% das crianças com menos de cinco anos está nessa situação–, por outro vemos crescer o número de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade –7,3% das crianças da mesma idade já estão nessa categoria. E tem mais: entre os cinco e os nove anos, a taxa alcança o preocupante índice de 33,5%.
Sob a ideologia do consumo, a alimentação inadequada dos mais novos cresce assustadoramente. E somos nós, os adultos, os responsáveis por isso. Basta ler algumas das críticas feitas à merenda da filha de Bela Gil para constatar isso.
Não é preciso ser adepta da alimentação natural, como é a apresentadora, para alimentar bem os filhos e a família. O programa –a que assisto regularmente, devido a meu interesse em culinária– deixa bem clara a linha alimentar seguida. E, como todos as outras atrações do gênero, mostra receitas que agradam a quem assiste e outras que não. Normal, não é?
Mas um ponto da merenda foco da polêmica me chamou muito a atenção: era uma lancheira que eu gosto de chamar de "amorosa".
Bela conhece a filha, dá a ela oportunidades de descobrir novos sabores segundo seus princípios alimentares e permite que ela explore o paladar, ao apresentar diversos tipos de alimentos, sem se render ao que consideramos "gosto infantil", tampouco ao consumismo de determinados alimentos e bebidas que experimentamos na atualidade.
Criança não precisa de um cardápio diferente do dos adultos para se alimentar, como muitos restaurantes gostam de apresentar.
A amorosidade aos filhos se mostra também na alimentação que oferecemos a eles. Quando cedemos aos caprichos deles, pensamos muito mais em nós do que neles.
Sim: as crianças costumam saber o que querem; entretanto, como sempre repito, elas não sabem ainda se isso faz bem ou não a elas.
Petiscos industrializados, refrigerantes, biscoitos, embutidos etc., consumidos regularmente, não fazem bem à criança, e sabemos muito bem disso.
É nosso papel, portanto, colaborar para que os filhos tenham uma boa formação, para no futuro poder escolher, conhecer a cultura e a tradição alimentar da família à qual pertencem e, principalmente, expandir seu conhecimento do mundo. Afinal, comida é cultura, e oferecer comida boa aos filhos é ensinar-lhes o amor à vida!
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