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ruy castro

 

16/01/2013 - 03h30

Sarcófagos de concreto

RIO DE JANEIRO - Morreu Ada Louise Huxtable, 91, crítica de arquitetura do "New York Times", de 1963 a 1981, e do "Wall Street Journal". Foi a pioneira do gênero na imprensa. Não tolerava edifícios hostis às pessoas que viviam e trabalhavam neles ou aos seus vizinhos. Pena que não fosse brasileira.

Com uma Ada Louise na praça, não teríamos a intolerável Catedral Metropolitana, na avenida Chile, aqui no Rio --misto de usina nuclear com um balde emborcado, que acanalhou os Arcos da Lapa. Ou o espigão da Faculdade Cândido Mendes, na rua do Carmo, que engoliu o convento onde o príncipe d. João instalou a rainha dona Maria, em 1808. Ada Louise diria que Albert Speer, arquiteto do nazismo, os aprovaria.

Um de seus livros, de 1976, intitulava-se "Kicked a Building Lately?" (Chutou algum edifício ultimamente?). Chutar edifícios pode doer, mas é um protesto contra as empresas que plantam "sarcófagos de concreto" onde, até então, havia prédios adequados à harmonia urbana. Ou contra arquitetos cuja vaidade os faz projetar edifícios antissociais e em escala anti-humana, que desprezam o entorno.

Nesse sentido, o que ela não diria sobre Brasília, onde Lucio Costa e Oscar Niemeyer, fiéis a Le Corbusier, decretaram a morte da rua? No último domingo, a Folha entrevistou Paul Goldberger, sucessor de Ada Louise no "NYT" e seu crítico de arquitetura por 25 anos. "[Brasília] tem alguns bons prédios, mas não tem boas ruas", ele disse. "Parece um campus universitário no subúrbio".

Rola hoje, por toda parte, uma arquitetura de brilhos, mármores e espelhos --"como uma mulher cheia de joias", alerta meu amigo Luiz Fernando Janot, conselheiro do IAB. O pior de qualquer arquitetura extravagante é que não só nos obriga a conviver com ela pelo resto da vida como cafonizará também a vida de nossos netos.

ruy castro

Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados.

 

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