É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Espelho trágico
RIO DE JANEIRO - Não adianta, não somos bons em aeroportos. Nunca fomos. Eles são barulhentos, entupidos, abafados e desconfortáveis. Poucos têm um bar ou restaurante decente. São uma vergonha em matéria de check-in, horário de voo, controle de passaportes e esteira de bagagem. Raros têm táxis suficientes para escoar quem chega. Ligação com o metrô, nem pensar. Única coisa boa: a voz de Iris Lettieri em alguns deles.
Somos péssimos também em transportes. Um presidente que passou à história como tendo feito "50 anos em cinco" desmantelou a rede ferroviária, tornou-nos reféns de carros e ônibus, e nos obrigou a rodar –até hoje– pelas piores estradas do planeta. E, como nossas distâncias são continentais, só nos restam os aviões, com suas poltronas feitas para menores de 30 kg e barras de cereal como refeição.
Merecemos levar bomba até em estádios. O engraçado é que já fomos bons nisso –levantamos o primeiro Maracanã em menos de dois anos, e olhe que, em 1950, era o maior do mundo. Hoje, a construção da maioria deles parece a cargo dos Três Patetas. A obra se arrasta por cinco anos –operários caem das alturas, guindastes desabam, descargas elétricas abundam– e eles não ficam prontos, são apenas inaugurados. Vende-se cada centímetro de suas instalações por uma fortuna e, mesmo assim, o custo final não fecha com o previsto. Aliás, somos ruins de cálculo e piores ainda para prestar contas.
E zero para nós em matéria de manifestações. Se vamos às ruas protestar ou reivindicar, a tática é depredar, botar fogo e destruir justamente o que, em tempos de normalidade, deveria nos servir. Confiando na fraqueza das instituições, queremos resolver tudo na marra.
Vamos ficar devendo isto à Copa –um espelho que nos radiografa e permite nos vermos como somos, não como pensávamos que fôssemos.
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