É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Todos Geddel
Alan Marques - 6.set.2016/Folhapress | ||
O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB) |
RIO DE JANEIRO - Por volta de 1968, Nelson Rodrigues escreveu: "Em Brasília, todos são inocentes e todos são cúmplices". Sua frase só não se aplica neste momento porque há uma solitária exceção: o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero. Ele não quis fazer parte daquela unanimidade. Ao se sentir pressionado por seu colega Geddel Vieira Lima, secretário de Governo, a aprovar certa medida que contrariava o interesse público e favorecia os negócios particulares do colega, Calero preferiu demitir-se.
Um gesto tão simples — afinal, o que há de mais natural do que uma pessoa honesta retirar-se de um ambiente que não lhe convém? —, provocou uma reação surpreendente. Destampou um ralo do qual escapou extraordinário fedor.
Começou quando o presidente Michel Temer, sem discutir, aceitou a saída do ministro e manteve Geddel no emprego, com o que avalizou o comportamento de seu secretário. Com isso, Temer quis dizer que, sim, pode-se coagir o poder público a autorizar a construção de um espigão de 30 andares sobre uma região histórica de Salvador para justificar a compra de um apartamento e talvez outros interesses particulares. No que se embutiu um recado: o balcão continua aberto — só mudaram os operadores.
Entendendo a mensagem, uma malta de políticos, com destaque para os suspeitos de sempre — os cardeais, com cargos de liderança ou presidência nas casas do Congresso —, apressou-se em socorrer Geddel, minimizando a história, declarando-a um caso encerrado ou enfatizando que, neste momento, há medidas mais urgentes a tratar. Perfeito. E por que seria diferente? Afinal, não importa que se chamem Michel, Aloysio, Rodrigo, Renan ou, pode crer, Pauderney. São todos Geddel.
Com a volta de Marcelo Calero ao Itamaraty, sai ganhando a diplomacia brasileira.
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