É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Feio ser bonita
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Mulher-Maravilha na nova história em quadrinhos da DC Comics |
RIO DE JANEIRO - Em outubro último, a ONU nomeou a Mulher-Maravilha embaixadora honorária para uma campanha pela "igualdade de gênero", intitulada "Pelo Empoderamento das Mulheres e Meninas". Perfeito. Afinal, quem melhor para encarnar este poder do que uma super-heroína? O fato de ela só existir nos quadrinhos e na TV não a diminuía — afinal, Bob Dylan não ganharia o Nobel de Literatura e Donald Trump não se elegeria presidente dos EUA? O mundo já não existe para terminar num livro, como dizia em 1897 o francês Mallarmé, mas num exemplar de "Caras".
Mulher-Maravilha foi criada em 1941 por William e Elizabeth Marston, em resposta a Super-Homem, Batman e outros super-machões. O desenho original da personagem, por H.G. Peter, foi inspirado na jovem Olive Byrne, que compôs na vida real um longo e feliz ménage à trois com o casal. Lançada em gibi há 75 anos, Mulher-Maravilha nunca saiu de cartaz.
Esta semana, no entanto, a ONU cassou o seu título de embaixadora, atendendo a uma petição com 45 mil assinaturas que a acusavam de ser "uma mulher branca, hipersexualizada e com proporções impossíveis". Como se vê, a igualdade de "gênero" não basta. É preciso também ser assexuada, banal e sem curvas.
Em 1978, criei uma Mulher-Maravilha brasileira, Maria Maravilha, vivida por Betty Faria num especial mensal da TV Globo, "Brasil Pandeiro". O visual de Betty era espetacular, mas Maria era uma anti-super-heroína – enquanto combatia os bandidos (comandados por Hugo Carvana), sofria para preencher o Imposto de Renda, suas botas lhe provocavam calos e ela própria lavava seu uniforme e calcinhas.
Era como se disséssemos: Maria Maravilha é tão super-heroína quanto a brasileira média, que assiste ao programa. Minhas amigas feministas adoravam.
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