É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Dívidas impagáveis
Ricardo Borges-24.jun.2016/Folhapress | ||
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró em carro da Polícia Federal a caminho de Petrópolis |
RIO DE JANEIRO - Quem mandou achar que a orgia ia durar para sempre e, como diria o Antonio Houaiss, não se precatou? Um dos problemas dos apanhados na Lava Jato é que, presos ou soltos, com ou sem tornozelo premiado, estão todos em dívida para com o Tesouro. O dinheiro que têm de devolver reflete a fortuna com que se locupletaram nos bons tempos, quando o drenavam da Petrobras, do BNDES e de outros órgãos públicos e o passavam pela lavanderia, sob as vistas dos então donos do país. Era muito dinheiro. Mas, como não separaram nem uma fração dele, para dias menos prósperos, estão em apuros para pagar o que devem.
O doleiro Alberto Youssef, por exemplo, deve R$ 1 bi. Como vai fazer para quitar isso? Aos 49 anos, está meio passado para voltar a vender pastéis ou contrabandear artigos eletrônicos paraguaios, como fazia em jovem. E quem vai querer comprar um dólar na sua mão? Já o advogado de Nestor Cerveró, ex-cartola da Petrobras e devedor da comparativa bagatela de R$ 48 milhões, avisou que a dívida de seu cliente é "impagável". Donde vem beiço aí.
Como Sérgio Cabral e Sra. vão fazer para devolver o talvez também bilhão que, durante 10 anos, receberam em propinas e converteram em colares, brincos, pulseiras, pingentes, casa de praia, barcos, passagens para Paris, hotéis seis estrelas, limusines, champanhe, caviar, ostras, escargôs e gorjetas? As joias talvez possam ser liquidadas no mercado ou leiloadas, mas as ostras e os escargôs não voltam mais.
E muitos se condoem pelas finanças do ex-presidente Lula —com razão. Com seu partido fora do poder e a derrocada das empreiteiras amigas que o contratavam para fazer palestras —que, segundo sua defesa, lhe renderam quase R$ 1 milhão em 2015—, ninguém mais parece interessado nelas.
Sei lá, ficaram irrelevantes.
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