É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Coleção para a humanidade
Acervo da Fundação Biblioteca Nacional do Brasil | ||
Dom Pedro 2º montado em um camelo durante sua visita ao Egito, em 1871 |
A exposição "Uma Viagem ao Mundo Antigo - Egito e Pompeia nas Fotografias da Coleção D. Thereza Christina Maria", em cartaz na Biblioteca Nacional, de 30 último até janeiro de 2018, não é extraordinária apenas pelo que apresenta –119 imagens de qualidade inacreditável, resultado das viagens do imperador d. Pedro 2º à Europa e ao Oriente Médio entre 1871 e 1888, com curadoria do historiador Joaquim Marçal. Faz pensar no que significava um governante deixar seu país –pagando as próprias despesas– e em como esses deslocamentos geravam tanto benefício para tantos.
D. Pedro não viajava a turismo, mas a estudos. Levava com ele professores de árabe e hebraico, uma pequena biblioteca de história e um estoque de cadernos nos quais desenhava e registrava o que via e aprendia. E tinha um apetite fotográfico comparável ao dos plebeus de hoje com suas xeretas digitais. Só que estávamos então na aurora da fotografia, em que as chapas viajavam em lombo de mula e cada registro levava uma eternidade para ser feito.
O imperador não se contentava com as fotos que ele e seus companheiros tiravam, entre esfinges, pirâmides e ruínas. Era também cliente dos mercadores de imagens, com o que sua coleção devia conter material que, não fosse por seus cuidados, teria se perdido nos bazares do século 19. Tudo isso somado a mapas, estampas e impressos formou a coleção de 35 mil itens que a família imperial, banida pela República, doou à Biblioteca Nacional em 1892, pouco depois da morte de d. Pedro em Paris.
Um acervo dessa categoria não fala exclusivamente ao Brasil. É um patrimônio da humanidade. Significa que, quando d. Pedro tomava um navio, o mundo saía ganhando.
Por favor, sem comparações com as viagens dos nossos modernos governantes. Estas, um dia, só interessarão à Interpol.
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