Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Charles Manson, o mandante do assassinato da atriz Sharon Tate e de outras seis pessoas em Los Angeles, em 1969 —crime que abalou a geração "paz e amor"—, morreu em novembro, aos 83 anos, enquanto cumpria prisão perpétua não muito longe da cena do crime. Mas sua história está longe de terminar. Começou a briga por seu espólio, envolvendo a exploração de sua imagem e de tudo que ele deixou ou que possa ser criado em seu nome. Não é um espólio desprezível —chega fácil a alguns milhões.

Os primeiros candidatos já se apresentaram: um neto reconhecido, um filho talvez ilegítimo e um ou dois chefes de seus fã-clubes, especialistas em capturar tudo que um dia tenha sido vagamente associado a ele. O fato de Manson ter passado em instituições metade de sua vida antes dos 37 anos —idade em que comandou o massacre— e os restantes na grade não quer dizer nada. Uma escova de dentes usada por ele, por exemplo, pode render grandes lances num leilão.

Assim como manuscritos —ele não terá deixado "reflexões", textos sobre delírio, loucura, magia ou, na pior das hipóteses, um diário? Imagine uma edição comentada desses textos, com prefácio de Axl Rose e notas de pé de página por Noam Chomsky —todas as editoras do mundo iriam disputá-la na feira de Frankfurt. E seus bens pessoais? Livros, roupas, quem sabe uma pira para queimar incenso? E os piolhos? Manson devia ter na cabeça piolhos originais de 1969, os primeiros depois de décadas em que eram dados como erradicados.

E há a sua obra musical, claro. Manson julgava-se o sucessor dos Beatles. Uma de suas músicas, "Never Learn Not to Love", foi gravada pelos Beach Boys no mesmo ano dos crimes; outra, "Look at Your Game, Girl", em 1993, pelo Guns N' Roses.

Sim, há quem cante Charles Manson. E há até quem o escute.

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