É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
O que está por trás do Hamas não é a Palestina
Israel é uma gota no mundo, do tamanho de Sergipe. Sua população é menor do que a torcida do Palmeiras. Por mais preparados que sejam seu Exército e sua população, o Estado judeu não tem tamanho para determinar os rumos do Oriente Médio. São 8 milhões de israelenses, em meio a mais de 350 milhões de árabes e mais 76 milhões de iranianos.
O que dá o tom na região não são os prêmios Nobel de Israel ou o fato de o país, estabelecido por resolução da ONU em 1948, ocupar hoje a 19ª posição no ranking de desenvolvimento humano da mesma ONU (IDH). O que dá o tom ali é a loucura que tomou conta do mundo árabe, que oscila de guerras civis sangrentas a ditaduras ferrenhas passando por Estados falidos e crescentes bolsões radicais islamistas.
As guerras de Israel não são mais contra Estados nacionais ou movimentos nacionalistas, mas contra grupos extremistas islâmicos como o Hizbollah, no Líbano, e o Hamas e a Jihad Islâmica, em Gaza, patrocinados por estrangeiros com interesses muito distintos.
O que ocorre nas fronteiras de Israel ocorre na Síria, no Iraque, no Líbano, na Líbia, no Iêmen, no Egito. E pode ocorrer a qualquer hora em praticamente todo o mundo árabe, com governos instáveis e massas empobrecidas à beira de ataques.
Nessa chapa quente, grupos extremistas religiosos pipocam com um discurso armado, empacotado e testado em diversos países. Um modelo tão eficiente que arrebata combatentes em todos os cantos do planeta e certamente aqui na América do Sul.
É essa onda global que as tropas de Israel enfrentam em Gaza neste momento. É uma luta feroz, atroz. Em toda parte. Só na Síria, são mais de 150 mil mortos na guerra civil, com uso de armas químicas e bombardeio indiscriminado de civis. No Iraque, jihadistas sunitas estabeleceram um califado em boa parte do país, com destruição de templos xiitas, expulsão de cristãos e demolição do que, segundo a tradição, seria a tumba do profeta Jonas, aquele da baleia, reverenciado por judeus, cristãos e muçulmanos.
Mas quem se importa com árabes matando árabes?
As cenas de pobres crianças palestinas mortas ou feridas no confronto Israel-Hamas são de partir o coração, inclusive da esmagadora maioria dos israelenses. Mas para entendê-las é preciso olhar pelo prisma do fanatismo religioso, que reduz o humano e glorifica o martírio.
Isso tudo contamina as aspirações nacionais dos palestinos, que são legítimas e justas. Uma causa raptada pelo niilismo jihadista do Hamas que só trouxe e trará mais miséria a um povo tão sofrido, que nunca teve uma liderança capaz de entender Israel e os judeus e, por isso, entregar a seu povo um Estado.
A pior maneira de promover a causa palestina é promover o ódio a Israel. É o que o Hamas faz, com consequências desastrosas. É o que boa parte dos críticos de Israel faz. É o que o Brasil quase fez quando divulgou uma nota condenando Israel sem condenar a barragem de mísseis e foguetes que o Hamas dispara diariamente contra a população civil israelense.
Quanto mais Israel se sentir isolado e ameaçado, mais difícil será fazer concessões aos palestinos. Se nenhum outro argumento servir aos antissionistas e antissemitas de plantão: quanto mais vocês odiarem e atacarem Israel, menores as chances do estabelecimento do Estado palestino.
Viva a tolerância. Não viva o ódio.
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