É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
Calma, faltam só três anos e meio
Políticos não perderão a chance de afundar mais ainda o Brasil se isso ajudá-los a escapar da Justiça. Deu até medo, deve ter sido essa a intenção, ouvir Michel Temer, que outro dia falava em "crisezinha", dizer ontem, com ênfase incomum, que "a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvida que é grave, e é grave porque há uma crise política se ensaiando, há uma crise econômica que está precisando ser ajustada, mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso Nacional".
Temer sabe o que fala. Está com os pés onde sempre esteve: nas canoas que flutuam. A inoperância de Dilma aliada ao encurralamento do PT deixou no seu colo uma oportunidade histórica. Dilma não vai fazer política, e seu padrinho, que a escolheu sabendo que ela não faz política, está contido.
Sobrou, por enquanto, Temer, Cunha e Renan. Os três do PMDB, o garantidor das maiorias legislativas e um dos partidos mais ameaçados pela Lava Jato.
Para onde o PMDB vai, o Brasil vai. Pelo menos é assim que tem sido. Cunha já foi para a oposição. Renan virou esfinge, enquanto aguarda seu destino. Temer tem supostamente cargos para distribuir, mas se aproxima cada vez mais do leme. O problema é a tempestade pela frente, como ele mesmo falou.
Estamos vendo o antigo regime da política brasileira ser golpeado como nunca foi pelo tripé progressista que une instituições independentes, imprensa livre e opinião pública.
Não tem nada a ver com esquerda e direita. A esquerda brasileira precisa ser forte, assim como a direita. O país chegou onde chegou depois que Lula decretou a extinção da direita e virou rei do Brasil.
As delações da Lava Jato revelam em alta definição o que se faz com o Brasil há séculos. Um dia isso seria confrontado. Estamos vendo esse confronto. É uma oportunidade histórica. E, de novo, nada tem relação com a divisão direita-esquerda.
Mas o regime é forte, rico e resistente. Tem várias vidas, várias caras e todo tipo de subterfúgio. Inclusive a opção de Sansão: se eu cair, todo mundo cai.
A aprovação de aumentos salariais a servidores públicos no momento de aguda crise fiscal mostra bem a disposição da República de Brasília de agir de acordo com suas próprias regras.
Sempre foi assim. Em 2009, Lula disse: "Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Mês passado, quando a Polícia Federal entrou em apartamentos funcionais de parlamentares como o senador Fernando Collor. Renan Calheiros, presidente do Senado, denunciou "violência contra as garantias constitucionais em detrimento do Estado Democrático de Direito".
Detalhe: foi o Supremo Tribunal Federal que autorizou a ação. E outras virão.
A "crisezinha" virou "crise grave" em 15 dias e só tende a piorar. O governo perdeu a liderança, perdeu a base, perdeu a população. Sobraram só três anos e meio de mandato.
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