Sílvia Corrêa

É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.

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Sílvia Corrêa

Correndo contra a raiva

Crédito: Rodrigo Fortes Ilustração de Rodrigo Fortes para a coluna Bichos, de 14 de janeiro de 2018
Ilustração de Rodrigo Fortes para a coluna Bichos, de 14 de janeiro de 2018

Foram os filhos, então com 15 e 11 anos, que chegaram em casa com o cão: um vira-lata que eles haviam adotado por iniciativa própria e já tinham deixado por dois dias na casa de uma vizinha. Não havia mais como escondê-lo.

A mãe cedeu. Separada havia pouco do pais das crianças, a fonoaudióloga Claudia Cotes viu no cachorro uma forma de apoiar emocionalmente os filhos. Mas a história foi gradualmente ganhando outro contorno.

Batizado de Riley, em homenagem ao pastor alemão do game Call of Duty: Ghosts, o filhote era descontrolado. "Ele fazia xixi nas camas, fazia cocô no sofá da sala, destruía tudo", conta Claudia.

Absolutamente sedentária Claudia passou a andar com Riley todos os dias. Andar não, correr. Descia correndo onze andares do prédio, corria pelas ruas da Vila Mariana, subia os onze andares de volta. O exercício durava até 90 minutos. E os resultados apareceram: para Claudia e para Riley.

"No começo, eu corria de raiva do que ele fazia", diz a fonoaudióloga. "Mas, quando você corre, a raiva passa. Ele voltava tranquilo, entendendo os limites dele, e eu os meus."

A raiva virou prazer, e Claudia passou a correr com Riley... e sem ele. "A corrida é um processo de autoconhecimento. Você aprende até onde pode ir, aprende a lidar com a dor, aprende a meditar ativamente em busca de equilíbrio."

Das corridas na Vila Mariana ela passou a provas de quatro, oito, 16 e 21 quilômetros, até chegar às maratonas (42 km). Em novembro correu a de Nova York e, no final de semana passado, a da Disney (Orlando).

A adoção, que parecia servir apenas para ajudar Riley e apoiar as crianças, revolucionou a rotina de Claudia. "A corrida mudou minha vida", diz ela, cuja meta é participar das 12 maiores maratonas do mundo. Viva a hiperatividade de Riley!

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