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suzana singer

 

17/02/2013 - 14h21

Confissões de um colunista

Barbara Gancia e Ruy Castro expõem intimidade para, segundo eles, ajudar os que têm dificuldade de se aceitar

Entre os muitos artigos sobre o papa publicados pela Folha nos últimos dias, um chamou a atenção pelo tom confessional. Na sexta-feira, a colunista Barbara Gancia criticou duramente a renúncia, chamou Bento 16 de "arregão" e declarou que "malucos de batina não me afastarão de Cristo por ser gay".

O tom agressivo da colunista ao se referir a Sua Santidade feriu os sentimentos dos católicos, mas não passou despercebida a "saída do armário". "Ela aproveita o ódio à Igreja Católica para revelar sua opção sexual, o que é uma inusitada falta de respeito. A Folha nos deve desculpas", criticou o bancário aposentado Paulo de Tarso Santos, 68.

A homossexualidade de Barbara não era propriamente um segredo, mas isso nunca tinha ido parar na "Primeira Página". "Opto por ser fiel a mim, da forma mais digna e transparente possível", escreveu.

Em janeiro, no feriado do aniversário de São Paulo, o jornal já tinha dado destaque a outra revelação de colunista: Ruy Castro comemorava 25 anos sem beber. "Acordado, bebia um mínimo de dois litros de vodca por dia, só em casa", contou Ruy, que mostrou todo o seu talento de escritor ao descrever, em apenas cinco parágrafos, o calvário de um dependente químico.

Por que expor-se? "No Brasil, não há exemplos públicos de pessoas que se assumem, como fez o ator Michael J. Fox, quando contou sofrer do mal de Parkinson", diz Barbara.

Como Ruy, ela teve problema com alcoolismo e não esconde isso do público. "É uma forma de ajudar outras pessoas a se sentirem mais aceitas", defende.

Ruy Castro concorda. "A repercussão daquela coluna foi enorme. Recebi muita mensagem, inclusive de gente que bebe demais e precisa de coragem para começar um tratamento", conta.

O colunista já escreveu também sobre o câncer que teve na língua. "Acho que ajudou pacientes que encaravam a doença como sinônimo de condenação à morte."

Ambos esperaram anos até abordarem publicamente esses temas. Ruy Castro terminou primeiro a biografia do jogador Garrincha, que era alcoólatra, porque não queria que interpretassem passagens do livro a partir da história do autor.

O empurrão para Barbara foi o seu trabalho em uma fundação sobre dislexia (ela tem um afilhado com o problema). "Procuramos muito alguém famoso que assumisse ser disléxico e não conseguimos. Percebi que faltam modelos no Brasil."

O único receio de Barbara é ter sua imagem reduzida ao fato de ser gay. "Não quero ter apenas essa dimensão. Tenho outros defeitos", brinca. Deve ter mesmo, mas covardia não é um deles.

OS MISTÉRIOS DA IGREJA

Como o meteorito que rasgou o céu da Rússia, a renúncia do papa despencou sobre as Redações em meio ao ziriguidum da segunda-feira de Carnaval.

A mobilização na Folha foi rápida. Em pouco tempo, jornalistas do primeiro time foram enviados a Roma, vários infográficos foram criados para explicar a sucessão e 15 artigos já foram publicados.

Mesmo assim, parece mais fácil entender o mistério da Santíssima Trindade do que compreender o que aconteceu na Igreja Católica. Como não há uma cobertura sistemática de religião e a situação da renúncia é quase inédita (a última ocorreu há quase 600 anos), pululam teorias conspiratórias em que mal se entende quais são os lados em disputa.

Outro problema é a insistência na tríade "pedofilia, camisinha, homossexualidade", como se fosse fundamental na escolha do novo papa. Mesmo algumas análises sobre o legado de Bento 16 parecem meras compilações do que saiu na imprensa nos últimos anos. O jornal precisa fazer um esforço para entender a lógica interna da Igreja.

suzana singer

Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de 'Cotidiano'. Escreve aos domingos na versão impressa. E-mail: ombudsman@uol.com.br

 

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