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sylvia colombo

crônicas de Buenos Aires  

21/02/2012 - 07h00

Eleições sem imprensa

No período que vai de hoje a um ano, importantes eleições vão acontecer na América Latina. Na Venezuela, Hugo Chávez tentará mais um mandato, apesar de seu misterioso e aparentemente grave câncer. No México, o partido da Ação Nacional, do presidente Felipe Calderón, fará de tudo para manter-se no poder, apesar de o favorito nas pesquisas ser o tradicional PRI (Partido Revolucionário Institucional). Enquanto isso, no Equador, o autoritário Rafael Correa deve concorrer a mais um período.

São três países populosos e com inúmeras diferenças e conflitos sociais. México e Venezuela estão entre as principais economias do continente, ao lado de Brasil, Argentina e Colômbia.

As três datas serão importantes para a definição dos rumos políticos do continente. O México escolhe presidente em julho. A Venezuela em outubro. E o Equador, em janeiro de 2013.

Apesar de terem, atualmente, estabilidade democrática, e sem a tradição de ditaduras truculentas como as do Cone Sul, algo vai muito mal nesses países do ponto de vista da institucionalidade.

Em todos, a imprensa vive dias difíceis, com liberdades cerceadas e, em alguns casos, com graves riscos para a integridade física de jornalistas e donos de jornais.

Na última semana, o governo equatoriano conseguiu que a Justiça confirmasse uma dura sentença aplicada aos donos do jornal "El Universo", assim como a um editorialista. Foram condenados a pagar uma multa de US$ 40 milhões e a três anos de prisão por conta da publicação de um artigo em que a ação do presidente Correa numa revolta policial era questionada.

Não se trata de uma novidade no país. Desde que Correa assumiu, em 2007, condenações a jornalistas são comuns, assim como a expropriação de TVs e rádios e a formação de um conglomerado de mídia governista que achincalha opositores e faz propaganda do presidente.

Agora, estão para ser implementadas uma lei que proíbe a publicação de reportagens que façam denúncias contra candidatos em tempos de eleição e outra que limita a 33% do mercado a participação de meios independentes.

Em editorial recente, o jornal "The Washington Post" disse que a situação da imprensa no Equador já era mais grave que a da Venezuela.

No país de Hugo Chávez, perseguições a jornalistas são comuns desde que este chegou ao poder, em 1999. O fim da Radio Caracas Televisión (RCTV), emissora de maior audiência da Venezuela, que teve sua concessão extinta em 2007, é talvez a mais exemplar demonstração de sua truculência com a imprensa. Mas está longe de ser a única. Chávez também persegue e expõe jornalistas e armou um conglomerado de mídia para propagandear atos do governo.

Ao estilo do argentino "6,7,8", que vai ao ar pela TV estatal e se dedica a atacar os jornais críticos a Cristina Kirchner, na Venezuela há o "La Hojilla", apresentado por Mario Silva. O programa se dedica a "debater" o trabalho da imprensa opositora, mas vai muito além disso, proferindo insultos, palavrões e vulgaridades a jornalistas e donos de veículos.

No México, o problema é de natureza diferente. A imprensa é uma das principais vítimas da violência gerada pela guerra ao narcotráfico promovida pelo presidente Felipe Calderón, e que já causou quase 50 mil mortos desde 2006. Um quadro da situação foi publicado há algumas semanas na Ilustríssima.

Naquele país, jornalistas enfrentam a pressão dos narcotraficantes e dos governos regionais que atuam em cumplicidade. Jornalistas são sequestrados e mortos, enquanto sedes de diários e emissoras são alvo de atentados.

O governo nacional pede aos jornais que publiquem com moderação e critério as notícias sobre a violência, para não fazer publicidade do terrorismo. Só que isso leva a uma cobertura mais anódina, pouco condizente com a situação que o país vive. A sociedade, consequentemente, fica um tanto anestesiada e apática com relação aos fatos.

Tanto no México como no Equador e na Venezuela tem crescido a níveis preocupantes a autocensura. Tendo que enfrentar a ideia de que podem morrer ou ficar sem emprego, perdendo a vida e desamparando suas famílias, jornalistas preferem não denunciar atos de corrupção do governo ou, no caso mexicano, as ações do narcotráfico.

Assim, a imprensa vai se tornando fútil ou deixando de exercer seu papel no jogo democrático. É uma baixa que pode ser vital a essas países em tempo de definição eleitoral.

sylvia colombo

Sylvia Colombo é correspondente da Folha em Buenos Aires. Está no jornal desde 1993 e já foi repórter, editora do "Folhateen" e da "Ilustrada" e correspondente em Londres. É formada em jornalismo e história. Escreve às terças-feira no site da Folha.

 

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