Publicidade
Publicidade
sylvia colombo
crônicas de Buenos Aires
Semana complicada na Espanha
As ruas de Madrid estão tomadas por cartazes coloridos e pichações convocando para uma greve geral na próxima quinta-feira, dia 29.
A manifestação está sendo organizada por sindicatos de toda a Espanha para tentar conter uma reforma trabalhista já aprovada pelo governo do conservador Mariano Rajoy (PP), eleito em novembro do ano passado.
A Espanha atravessa grave crise econômica e já tem o pior nível de desemprego da zona do euro. Calcula-se que, entre a população com menos de 25 anos, já chega a 49,9%.
O projeto aprovado pelo PP, e que tem apoio de empresários, resulta na perda de direitos dos trabalhadores, além de facilitar a demissão de funcionários.
Os trabalhadores, que contam com o apoio de artistas e intelectuais, consideram que a reforma visa favorecer apenas os empresários, que poderão livrar-se mais facilmente dos empregados em caso de necessidade.
O governo responde dizendo que a adoção de medidas para regularizar o trabalho temporário e a flexibilização nas contratações facilitará a integração de mais pessoas ao mercado.
A greve será certamente mais um baque para Rajoy. No último domingo, ele e seu partido levaram um grande susto. As eleições na região autônoma da Andaluzia, zona estratégica por concentrar 6,5 milhões de eleitores, não saíram como o PP imaginava.
Contrariando todas as pesquisas, que indicavam uma retumbante vitória do candidato de Rajoy, Javier Arenas (PP), o resultado virou para outra direção.
Apesar de obter menos votos, o socialista PSOE (Partido Socialista Obrero Español), grande derrotado na eleição nacional, alcançou o suficiente para formar um governo de coalizão com a Izquierda Unida (IU). Assim, conseguirá manter uma hegemonia na região que já dura trinta anos.
Acusados de corrupção e de não saberem lidar com as terríveis taxas de desemprego locais (31% da população ativa), os socialistas andaluzes estavam mais de 8 pontos atrás dos conservadores nas pesquisas. Até o momento em que começou a votação, o PP ainda era considerado franco favorito.
As urnas, porém, se manifestaram de modo diferente, refletindo uma desaprovação geral ao governo do país. Javier Arenas ficou realmente em primeiro lugar, com 40,65% dos votos. O número, porém, não foi suficiente para permitir que formasse um governo, que ficará com o PSOE, com 39,52%, em aliança com o partido Izquierda Unida (IULV-CA), que obteve 11,34% dos votos.
O revés andaluz evitou que Rajoy se tornasse o presidente que mais poder acumula na Espanha desde a volta da democracia ao país, em 1977. Nos últimos tempos, o PP já havia tirado o PSOE de outras tradicionais praças dominadas pelo partido, Castilla-La Mancha e Extremadura.
Durante a campanha, os socialistas insistiram na bandeira da manutenção do estado do bem-estar, alertando para a política de cortes em saúde e educação, promovida pelo PP.
Este apostou em seus projetos de ajuste econômico e de anunciada luta contra a corrupção, acusando o PSOE de desvio de fundos de um fundo de empregos. Conhecido como "caso ERE (Expedientes de Regulación de Empleo)", o escândalo provocou a desaparição de 500 milhões de euros dos cofres do governo regional.
A greve da próxima quinta-feira e a eleição frustrada na Andaluzia no último domingo são as primeiras derrotas do novo governo espanhol. Devido à delicada situação econômica, Rajoy não teve direito a um período de adaptação.
Enquanto isso, no PSOE, é difícil esconder as divisões internas. Há quem defenda que é necessária uma renovação geracional total, incluindo mais as demandas dos chamados "indignados".
Sob o olhar do resto da Europa, preocupada com o modo como o país lida com a crise econômica, a Espanha questiona e pressiona seu novo governo. A tensão política que já toma conta do país há tempos parece longe de se esgotar.
Sylvia Colombo é correspondente da Folha em Buenos Aires. Está no jornal desde 1993 e já foi repórter, editora do "Folhateen" e da "Ilustrada" e correspondente em Londres. É formada em jornalismo e história. Escreve às terças-feira no site da Folha.
As Últimas que Você não Leu
Publicidade