Não importa: vai dar errado. Dane-se seu mix armadura humano acima da média, composto por sua cultura e sapiência supremas: vai dar errado. Se você escolher o cônjuge que lhe acalma e enternece, o seu inconsciente viciado em veneno vai vasculhar lixeiras em madrugadas tediosas. Se escolher o sexy nenhum-dia-será-igual, vai cansar de viver em estado vigilante dentro de sua própria zona de conforto. E tudo dará errado. Está correndo e emagreceu cinco quilos? Jajá vem a fisioterapia pro joelho e você embaranga. Partiu Itália viagem sonho? Certeza que vão perder tua mala e a cidade estará repleta de turistas e suas selfies idiotas. Largou a vida MBA varanda gourmet e vai tentar a carreira pretensiosa sou um humilde artista? Vai dar errado! Você pode ter o amor da crítica, mas não comprará nada com isso. Pode ter o amor das massas, mas o dinheiro é sempre idiota (e nunca lhe aquecerá com a pele do desgraçado que te bullyingava há 30 anos). Dormir deu errado. Coisa besta a autodesistência diária. Acordar deu erradão. É só reparar como o corpo se arrasta até a primeira mijadinha ardida de mais um dia. Tendo em vista a miséria que é simplesmente estar vivo, como poderia ser decente eleger alguém pra mandar nesse mundinho idiota que faz cerquinha na sua vidinha boçal? Vai dar errado. Todo discurso, amor, vestido de pura seda e tarde ensolarada terá seus furos. Tenho horror a você, sabichão de camiseta polo com número. Se o número for peludinho então, estilo camurcinha marota, eis uma bandeira pra você: suicídio-já! Profundo entendedor de toques amadeirados e ventos a favor no litoral. Feliz proprietário de um carro alto passando por cima da humanidade toda que, na sua fantasia, é formada por anões pobres e invejosos do seu pinto lustrado em gel. Se acha super "gente" porque chama o garçom de "ô grande" e dá abracinhos-povo na antiga babá. Ah você é sócio daquele bar-balada-restaurante que tem desconto pra modelos? Usa mullets playmobil neoaristocrata? Te acho boring nível pré-coma e não poderia gostar de seu candidato. Tenho o mesmo horror pelos ditadores da fofura. Os torturadores de cínicos. Os sem-maldade, querendo invadir seu latifúndio gigantesco de humanidade inabitada. A fofura é mais falsa que aquela sua tia que não casou, mas diz que se realiza "com os sobrinhos". Se você chamar sua empregada de empregada, eles te amarram a uma árvore. E te amarram abraçado a ela. Tenho horror aos violentos castradores de humor. Aos patrulheiros da bondade suprema. Aos inimigos dos bancos querendo poder (oi?). E não votaria em seus candidatos. Tenho horror a bigodinho de Hitler que ao invés de estar sensualizando numa calcinha sexy está clamando ódio contra a única espécie em que ainda acredito: os gays. Também tenho horror a quem tem horror da calcinha sexy e defende que coisa grande e grossa entrando em casa só se for canudo universitário (porque são contra o pau, aquele opressor... ). Eu não quero ser amiga de vocês nem votar em seus candidatos. Eis a única verdade: nossas bactérias pesam mais que o nosso cérebro. Não sabemos escolher nem o requeijão menos escroto (e estamos morrendo lentamente porque não temos saco para os nutricionistas ativistas), que dirá um político. Vai dar tudo errado.