Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Esse texto era sobre...

Esse texto era sobre o sentido que o PT trouxe à vida de algumas donas de casa. Esculachar o PT virou emprego com ares de intelectualidade para essas senhoras. Não estou defendendo o PT (não dá mais né? Pena). Mas, por Deus, onde estavam essas tantas Cidas e Martas? Algumas Silva outras tantas Matarazzo? Tão politizadas, revolucionárias e assíduas em redes sociais, passeatas e varandas?

Onde essa força interna estava quando elas eram apenas as mães que optaram por não trabalhar (nem dentro de casa –e se encheram de empregadas e babás), decorando a casa de praia com conchas de cores variadas dentro de um vaso transparente, e que odiavam ver "desgraças" no jornal? Que furacão elas viraram! Quanto mais escândalos, mais sentido pra vida. Se tiver impeachment, vai rolar uma depressão em massa, um ninho vazio. Marido pode trair, filho pode fumar erva. Só, por favor, não mexam na minha Globonews!

Mas achei melhor não, as pessoas não iriam entender que estou orgulhosa das donas de casa, iam me xingar de preconceituosa, falar que estou dizendo que o lugar da mulher é no fogão de dez bocas. Que estou disseminando o ódio contra a dona Nena. Que sou misógina, machista, que mereço ir pra Venezuela e essas coisas que está na moda dizer quando se quer parecer inteligente. Então, resolvi escrever justamente sobre a dificuldade em escrever sem levar tomatada em pixel.

Hoje em dia, falar "sim" é cometer um forte preconceito com o "não". Escrever "ali" é ser escroto com o "aqui". Se der "bom dia", vão te processar porque você está segregando o "dia ruim". Falou que foi à praia, algum grupo das "montanhas esquecidas" vai começar a te perseguir. Como fazer pra escrever sem ser xingado? Ou querer escrever sem ser odiado é eticamente errado, pois exclui aqueles que só sabem ser inimigos? Mas acho que Gregório já foi nesse tema, então desisti.

Esse texto era sobre parar com o antidepressivo. A parte "pura magia" é que você volta a se emocionar com música bonita, chorar em filme besta e pensar o sexo como a melhor coisa não inventada pelo homem e não como "uma coisa besta que as pessoas fazem, mas eu prefiro dormir e comer". A parte ruim é que você volta a chorar à toa e pensar em sexo na hora errada. Desmamar da química milagrosa é tarefa complicada principalmente para os convivas. Ontem, eram duas da manhã e eu não conseguia dormir, pensando "escrevo ou não um texto pra Folha falando que cansei desse machismo de alcunhar dinheiro de PAU e que quero a partir de hoje cobrar em XANAS"?. Tipo "tantas mil xanas por um roteiro" e tal. E daí expus essa questão num grupo de Whatsapp. Parar com o remédio também te deixa confuso entre mil assuntos, e todos eles são um pé no perigoso, outro no sem-sentido. De modo que mudei de ideia.

Esse texto era sobre meu novo vício raso e vexatório: tirar selfies. Meu Instagram virou o de uma menina de 16 anos com sérios problemas de aceitação (se você entrar lá, vai ver que tenho feito estudo apurado de meu melhor "lado" em composição com boquinhas semiabertinhas de desejo frugal). Que tadinha! Eu vou escovar os dentes, me olho e penso "que puta ângulo esse". Socorro, mas: passei uma vida fazendo careta porque achava que ser sexy era a coisa mais burra do mundo. Dez anos de terapia me libertaram até que, na semana passada, me fotografei em lingerie no closet e, então, achei melhor procurar os selfies anônimos.

Deveriam fazer esse grupo. Ou inventar um sublingual pra quando você tivesse vontade de cometer um selfie. O "fazedor compulsivo de selfie" deveria virar doença catalogada em bíblias psiquiátricas. Mas imagina escrever sobre isso com tantas questões mais sérias acontecendo no Brasil e no mundo? Desisti também.

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