Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
A bola está com o governo
Em minhas caminhadas diárias, o porteiro de um prédio vizinho me pediu para escrever sobre as causas da queda do Corinthians. Disse a ele que os motivos mais decisivos costumam ficar encobertos e que só conheço bem as coisas menos importantes. Ele não acreditou. Achou que eu estava brincando.
Isso me faz lembrar, mais uma vez, de uma cena do filme "Zorba, o Grego", quando Anthony Quinn, no papel de um grego rústico (Zorba), pergunta a seu patrão, um inglês erudito, o que os livros falavam sobre o que existia depois da morte. Ele responde: "Os livros não sabem". Zorba retruca: "Então seus livros não servem para nada".
Em 2012, Tite formou um time disciplinado e eficiente. Os laterais marcavam muito e apoiavam pouco. Os meias, pelos lados, jogavam de uma linha de fundo à outra. Havia uma obsessão por não levar gols. Parecia uma rígida equipe inglesa. O time vencia com um gol de diferença, geralmente por 1 a 0.
Assim, o Corinthians ganhou títulos, facilitado pela pouca qualidade dos rivais brasileiros e sul-americanos. Como o time estava preparado para não sofrer gols, mesmo de grandes equipes, não foi surpresa a vitória por 1 a 0 sobre o Chelsea, que vivia um mau momento.
A partir daí, criou-se uma grande expectativa, como se o Corinthians fosse um timão, com vários craques. Por isso, e mais a saída de Paulinho, a chegada inevitável da soberba, o desejo de todas as outras equipes de vencer o campeão mundial e o desgaste de fazer sempre tudo igual, surgiram os maus resultados, que só não foram piores porque a defesa continuava bem. Além disso, quem ganha por 1 a 0 corre grande risco de começar a perder, mesmo se não houver queda técnica.
Neste ano, com novo técnico, novos planos, renasceram as esperanças de recuperação.
Segundo informações de comentaristas, Mano Menezes quer que os laterais apoiem mais e que os meias se aproximem mais do centroavante, sem se preocuparem tanto em voltar para marcar os laterais. O time ficou mais fraco na defesa e continua ruim no ataque.
Nada mais ultrapassado do que jogar com laterais marcando e avançando como pontas, sem a ajuda de meias pelos lados, e com os volantes mais atrás, para fazer a cobertura dos laterais.
Muito mais graves que a queda técnica do Corinthians são as agressões sofridas pelos atletas. O presidente do Cruzeiro rompeu com as torcidas organizadas, o que deveria ser seguido pelos outros clubes, mas isso não é solução para o problema.
A violência é caso de polícia. É preciso identificar os marginais, não permitir que entrem em estádios, processá-los e prendê-los. O Estado brasileiro tem de tomar uma atitude, com urgência, com a colaboração efetiva e constante dos clubes e da sociedade. A bola está com o governo.
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