Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Tostão

Começou a festa

Na primeira vez em que fui convocado para a seleção, entre os 44 jogadores que iniciariam os treinos para a Copa de 1966, na Inglaterra, recebi a notícia pelo rádio, em um táxi. Tinha 19 anos e não possuía carro. A lista final dos 22 sairia na Suécia, onde o Brasil foi treinar e jogar, antes de ir para Liverpool.

Era reserva de Pelé e não estava garantido. Dias antes do anúncio, encontrei, no corredor do hotel, o supervisor Carlos Nascimento (o técnico era Feola), um homem duro, disciplinador. Distraído ou por um ato falho, perguntei quando iríamos para a Inglaterra. Ele me olhou e disse: "Quem falou que você vai à Copa"? Percebi minha petulância, o mico, e pensei que isso me tiraria do Mundial.
Ou foi o contrário? A comissão técnica poderia ter me achado decidido, um garoto que sabia o que queria.

Como era esperada, a convocação da seleção foi um show, um espetáculo, visual e comercial. Não faltou também o beija-mão.

Eu também convocaria Hernanes, mas pensei que Felipão chamaria Lucas Leiva. Explico. Como o técnico gosta de um volante mais recuado, para marcar, fazer a cobertura dos laterais, que apoiam muito, imaginei que Lucas Leiva seria o reserva de Luiz Gustavo, por ter essas características.

Fernandinho pode atuar no lugar de Luiz Gustavo, mas perderia o que tem de melhor, que é a chegada à frente, os dribles, os passes e as finalizações. No Manchester City, ele e Touré se alternam na marcação e no apoio.

A convocação de Henrique é injustificável. O técnico tem de ter confiança em todos os jogadores. Henrique, para o nível de seleção, é fraco como zagueiro, como volante ou como lateral-direito.

Ainda bem que dificilmente vai jogar. É a última opção entre os quatro zagueiros. Talvez essa seja a razão de sua convocação, a confiança do técnico de que ele não vai entrar.

Achava também que Hernanes não seria chamado porque Ramires ocupou as funções de Hernanes na Copa das Confederações, a de terceiro volante, quando o técnico queria mudar o sistema tático, ou de meia. Ramires poderá ser, na Copa, o primeiro reserva em várias posições.

Nunca vi uma seleção, antes de uma Copa, tão pronta e com um técnico tão bajulado, o super-herói do povo brasileiro. O time titular já foi escalado um ano antes do Mundial. O sistema tático e as opções já são conhecidos. Parte dessa tranquilidade é por causa da Copa das Confederações, uma conquista supervalorizada. Nos dois últimos mundiais, o Brasil também brilhou nessa competição.

É óbvio que planejar e definir, como fez muito bem Felipão, é importantíssimo em qualquer atividade. Nada pior que um técnico indeciso. Porém, há sempre um porém, as seleções que mais brilharam ficaram prontas durante a competição. As coisas mais encantadoras e eficientes são as que surpreendem.

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