Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
Tapete da memória
A escolha do Independência pelo Atlético, sua casa, só tem uma razão, a de achar que terá mais chances de vencer. O Galo sabe também que resultados heroicos são factíveis, diante da torcida, contra times de fora. Como essas vitórias ocorrem no segundo jogo, foi bom para o Cruzeiro fazer a primeira partida no Independência.
São apenas reflexões, divagações. As partidas serão decididas pelo imponderável e pelo talento individual e coletivo, durante o jogo.
O Cruzeiro possui Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Fábio, e o Atlético tem Tardelli e Victor, cinco entre os melhores do Brasileirão, embora Kaká lidere a Bola de Ouro, da Revista Placar, o que é incompreensível. Kaká tem jogado bem, mas, além dos cinco citados, há outros à sua frente. Os votantes devem ser tietes do jogador.
Hoje, tem São Paulo e Inter. O São Paulo, que jogaria na Colômbia, protestou, com razão, e a CBF, a Conmebol e a TV Globo mudaram as datas, prejudicando o Inter, que reclamou, também com razão. O Inter não terá Aránguiz, além de estar grogue, após o nocaute contra o Grêmio.
Um leitor me pediu para falar de clássicos que joguei. Lembro-me de um 3 a 3, no Mineirão. Saí, machucado, no início da partida. O Atlético fez 3 a 0, e o Cruzeiro empatou. Zé Carlos, no fim, quase faz o gol da vitória, em falta que bateu na trave.
Quando tinha 16 ou 17 anos, no Independência, antes do Mineirão, em 1963 ou em 1964 –faz tanto tempo que nem o Google sabe a data certa–, houve uma pancadaria em campo, e todos os jogadores foram expulsos. Perdi a chance de ganhar o troféu Belfort Duarte, dado ao atleta que atuava dez anos sem levar cartão vermelho.
No Mineirão, não me lembro do ano, o árbitro marcou um pênalti a favor do Cruzeiro e foi agredido por vários jogadores do Atlético, que foram expulsos. O jogo terminou. Na época, fiquei impressionado com a agressividade dos jogadores do Atlético, desde o início da partida. Será que tomaram um café diferente?
Lembro-me ainda de um 4 a 0 para o Cruzeiro, no Mineirão. Dei um drible em meu marcador, que caiu, e passei a bola para um companheiro fazer o gol. Havia, em um jornal mineiro, um colunista atleticano, que falava do Galo, um cruzeirense e um americano, que falavam de seus times. O colunista do Atlético escreveu que meu marcador deveria ter me dado um soco, para salvar a honra atleticana.
Ao contrário do que dizem, havia, no passado, dentro de campo, mais violência do que hoje. Em compensação, tinham menos faltas comuns, e o jogo era menos truncado.
Nossas lembranças costumam ser as afetivas e as convenientes. Lembramos das coisas boas, e as ruins são jogadas para debaixo do tapete da memória, até que, um dia, os fantasmas renascem para perturbar nossas vidas.
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