Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
Saudade do Muricybol
Os times brasileiros terão grandes dificuldades, hoje e amanhã, pela Libertadores.
Apenas o São Paulo joga em casa. Na maioria das vezes, o apoio maciço da torcida é uma tremenda ajuda. Os jogadores ficam mais espertos e concentrados. Porém, se a tensão é exagerada, alguns atletas não conseguem lidar com a responsabilidade, com a emoção, e passam a cometer erros graves e primários. O futebol é um jogo de inúmeras possibilidades.
Muricy continua com a eterna dúvida se escala dois atacantes, com Ganso pelo lado, ou se o coloca pelo centro, próximo de um centroavante.
O São Paulo é o time brasileiro que mais troca passes, porém, não tem sido eficiente. Será que Muricy e os torcedores têm saudade do Muricybol, quando a equipe foi tricampeã brasileira e se destacava pela marcação, pelas bolas longas e pelas jogadas aéreas? As outras equipes faziam o mesmo, mas o São Paulo fazia melhor. Essa e outras estratégias fizeram muito mal ao futebol brasileiro nos últimos tempos.
Hoje, é dia de jogaço na Europa, entre Barcelona e Manchester City. Por atuar em casa, ser superior e ter vencido o primeiro jogo, por 2 a 1, o Barcelona é o favorito para se classificar, desde que não seja tão cauteloso, como foi o Chelsea, em casa, contra o PSG, para tentar aproveitar a vantagem. O time catalão não tem esse perfil, mas, às vezes, acontecem coisas inesperadas, independentemente da vontade dos jogadores e do técnico.
Escuto, há muitos anos, que o Campeonato Inglês é o melhor e mais equilibrado da Europa e que os times médios e pequenos são superiores aos de outros países. Não vejo assim. As grandes e médias equipes inglesas têm se classificado muito menos para as fases finais da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Barcelona, Real Madrid e Bayern ganham, geralmente, com facilidade dos times inferiores, porque são muito bons, e não porque os adversários são ruins.
O Campeonato Inglês é tão organizado, tem gramados tão bons, os estádios estão sempre tão cheios, e a bola rola tanto, sem grandes interrupções, que qualquer jogo medíocre parece épico.
A troca de passes, de uma área à outra, é o símbolo do jogo coletivo das grandes equipes. Para isso, existem excepcionais meio-campistas, o que não acontece no Brasil, que, durante muito tempo, adotou o estilo ping-pong, em que a bola, rapidamente, vai e volta. Os jogadores preferem jogar a bola para frente, para o companheiro marcado, a retê-la, trocar passes e esperar o momento certo para tentar o lance decisivo. Que futebol é este? Já começou a mudar, especialmente depois da Copa e por causa dos melhores gramados.
Mas, quando a bola, nos grandes jogos da Europa, se aproxima do outro gol, é preciso ter atacantes dribladores, ousados, habilidosos e agressivos. Aí, se destacam os sul-americanos, embora haja também ótimos atacantes europeus. Hoje, em uma mesma partida, veremos quatro excepcionais atacantes sul-americanos (Messi, Neymar, Suárez e Agüero). Mesmo assim, o Brasil só tem um grande atacante. É perigoso depender demais de Neymar, como ocorreu na Copa.
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