Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
Parece existir algo não resolvido entre Messi e a seleção da Argentina
Julio Cortez/Associated Press | ||
Messi cobra pênalti para fora durante decisão da Copa America Centenário entre Argentina e Chile |
Se Guardiola fosse técnico do Flamengo, provavelmente, escalaria a equipe como no Manchester City, com quatro defensores, apenas um volante (Márcio Araújo, Rômulo ou Cuéllar), um meia de ligação de cada lado e mais à frente do volante (Diego e Conca) –no Manchester City, são De Bruyne e David Silva–, Éverton Ribeiro e Vinícius Júnior pelas pontas, mais Guerrero. Ele seria muito criticado, e não sei se daria certo. O Manchester City é forte no ataque e frágil na defesa.
Outro time brasileiro badalado é o Palmeiras. Cuca, ao mesmo tempo em que é um treinador inovador, ousado e inquieto, continua apegado a alguns conceitos ultrapassados, como ter um volante para correr atrás do adversário e ainda fazer a cobertura dos laterais. Não dá tempo de ele chegar à frente do jogador que recebe a bola nas costas dos laterais. Não se justifica a troca de Felipe Melo por Thiago Santos. Felipe Melo, além de marcar bem, tem um rápido e bom passe, o que dificulta a organização defensiva do outro time. Thiago Santos é apenas um bom marcador.
Ou o motivo da troca seria retirar a agressiva liderança e a pose de dono do time de Felipe Melo? Imagino que Cuca não goste do jeito falastrão do jogador. Eu também não, mas ele é melhor.
Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG eram os favoritos antes de começar o Brasileiro, mas quem tem jogado melhor são Corinthians e Grêmio. Luan, sem precisar voltar para marcar pelos lados e sem ser o atacante mais adiantado, como atuava antes, ficou ainda melhor, formando dupla com Barrios. Luan é o elo coletivo da equipe. Pelo que joga e jogou nos últimos anos, por ser mais jovem e por ter atuado bem na Olimpíada, merecia mais ser convocado que Rodriguinho e Diego Souza.
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Nesta sexta-feira (9), Brasil e Argentina se enfrentam. A grande esperança dos argentinos é que Sampaoli repita o sucesso de Tite e forme um ótimo conjunto. Será mais difícil. Os defensores, especialmente os laterais, são muito inferiores aos do Brasil. O conceito de anos atrás, de que a Argentina tinha melhores jogadores do meio para frente, não é mais verdadeiro, por causa da evolução de Casemiro e Philippe Coutinho e o surgimento de Gabriel Jesus, além dos ótimos reservas Willian e Douglas Costa. Há hoje uma igualdade entre as duas seleções nesse setor. Como o Brasil tem um conjunto muito melhor, os jogadores brilham mais.
Além de formar uma equipe, Sampaoli terá dificuldade de escalar Messi, Higuaín, Di Maria e Dybala juntos. Uma das possibilidades seria colocar três zagueiros, o que o técnico faz com frequência, e escalar, como alas, meias habilidosos e rápidos, como Di Maria, pela esquerda.
Neymar está fora do jogo. Ele, por querer mostrar ao mundo que não é apenas um excepcional coadjuvante, atua ainda melhor na seleção. Já Messi, apesar de jogar muito bem no time argentino, não tem a mesma magistral eficiência do Barcelona. Quanto mais ele quer brilhar e dar títulos ao país, mais dificuldades encontra. Por isso, o choro convulsivo e o anúncio de que não jogaria mais pela seleção, após perder um pênalti decisivo na Copa América. Refletiu e voltou atrás.
Parece existir uma instabilidade emocional, algo não resolvido, que não sei o que é, entre Messi, a seleção e o país. Seria importante que ele compreendesse o que se passa. "Decifra-me ou te devoro".
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