Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
Enganos e autoenganos
O futebol, como é frequente em todas as áreas, está repleto de notícias falsas, que são tratadas como verdadeiras, de análises equivocadas, de fofocas e de autoenganos. Um treinador faz uma substituição errada, o time melhora e vence, por inúmeros outros motivos, e ele é exaltado. As estatísticas costumam iludir, ainda mais quando a amostragem é pequena.
Os excessivamente racionais acham que tudo o que acontece em um jogo foi planejado, ensaiado. Nem sempre é assim, mesmo em outras áreas, como na economia, como mostrou o ganhador do Prêmio Nobel, o americano Richard Thaler, por seus trabalhos sobre a importância da psicologia nas condutas econômicas. Somos todos irracionais.
Outro engano frequente é o de rotular, por toda a vida, alguns atletas, políticos e profissionais de outras áreas de rebeldes, revolucionários, comprometidos com o progresso social, e tantos outros adjetivos, por causa de alguns gestos e discursos, mesmo quando a trajetória de suas carreiras não corresponda ao rótulo que receberam.
Nesta quarta, recomeça o Brasileiro. A enorme expectativa, criada no início da competição, sobre Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras foi uma ilusão, um engano. Os clubes contrataram jogadores medianos e bons e os anunciaram como ótimos e craques. O torcedor, consumidor, foi enganado. Parte da imprensa, por hábito de repetição, desconhecimento ou para aumentar a audiência, contribuiu para esse engano.
O Atlético-MG contratou jogadores famosos (Robinho, Fred e outro), como se jogassem ainda como nos melhores momentos. Valdívia, que começou muito bem a carreira, não avançou, por ter muito mais habilidade que técnica. Não existe um grande jogador sem uma grande técnica. O mesmo ocorre com Cazares. Há também vários jogadores medianos no badalado elenco do Atlético-MG.
O Flamengo de Rueda é muito parecido com o Flamengo de Zé Ricardo. Os dois gostam de ter um centroavante fixo, dois pontas abertos e um meia pelo centro. Todos longe um do outro, sem se aproximarem para trocar passes. O isolamento leva à queda técnica e à apatia, pois os jogadores ficam separados, técnica, física e emocionalmente.
O Palmeiras, em um mesmo jogo, usa a marcação individual e a marcação por pressão. São situações bem diferentes. A confusa marcação individual, com o jogador correndo atrás do adversário, sem respeitar os setores, foi abandonada há muito tempo, em todo o mundo, menos no Palmeiras. A marcação por pressão, utilizada pelos grandes times - o Palmeiras é o único brasileiro que faz isso bem -, é feita em todo o campo, principalmente no do adversário, para tentar recuperar a bola perto do gol.
Usar os dois tipos de marcação em um mesmo jogo é mais uma contradição e uma esquisitice de Cuca.
COPA DO MUNDO
A Alemanha venceu todos os jogos das eliminatórias, mesmo testando jogadores em todas as partidas. Por outro lado, enfrentou seleções mais fracas que a maioria dos adversários do Brasil, nas eliminatórias sul-americanas.
Penso que Tite deveria usar mais reservas nos próximos amistosos, pois todos podem ser titulares na Copa, por variados motivos. Isso não atrapalha a estrutura tática, pois seriam trocados uns dois jogadores a cada partida. Ainda não sei quem são os reservas de Paulinho e de Renato Augusto, quando o técnico tiver de substituí-los, sem mudar o sistema tático.
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