Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Após décadas, técnicos começam a se libertar dos dois volantes

Crédito: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians/Divulgação SAO PAULO, SP, 17.01.2018. BRASIL Corinthians x Ponte Preta no Estadio do Pacaembu, abertura do Campeonato Paulista de 2018. Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians ORG XMIT: Campeonato Paulista 2018 Corinth DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Jadson divide a bola durante jogo entre Corinthians e Ponte Preta, na estreia dos times no Paulista

As festas de lançamento dos Estaduais são pomposas, com presença até do Rei Pelé, no Rio de Janeiro. O frustrado torcedor cria uma enorme expectativa, e muitos técnicos, com razão, escalam os reservas em vários jogos, já que o tempo de treinamento é pequeno antes da competição.

Além de longos e de não atenderem à qualidade do jogo, os Estaduais despertam excessivos sentimentos saudosistas e românticos, que atrapalham a evolução do futebol.

Quase todos os principais times do mundo, há anos, jogam com um volante e um meio-campista de cada lado, que atacam e defendem. No Brasil, há décadas, as equipes atuam com dois volantes, um ao lado do outro, mais um meia centralizado. Isso começou a mudar.

Corinthians e Palmeiras, nas estreias pelo Estadual, jogaram com apenas um volante e dois armadores, além de dois pontas e um centroavante. Prefiro essa formação. Pode chamar de 4-1-4-1 ou 4-3-3. Não faz diferença. Quando o time recupera a bola, ataca com dois meias, em vez de um, e, quando a perde, se defende com três no meio-campo, em vez de dois.

Quem não sai de moda é o centroavante. Há de vários tipos. Ouço muito que Firmino, Gabriel Jesus e outros não são clássicos centroavantes, como se houvesse apenas um padrão, o alto, forte, estático e com apenas as funções de pivô e de finalizador.

Gabriel Jesus se destaca mais pela velocidade, pela infiltração para receber a bola na frente, entre ou nas costas dos zagueiros, e pelo posicionamento dentro da área, para dar o último toque para o gol. Já Firmino se destaca mais pela movimentação, pela troca de passes e pelo jogo coletivo. Isso não significa que Gabriel Jesus não seja bom quando sai da área nem que Firmino não seja um artilheiro.

Ronaldo e Romário, talvez os dois maiores centroavantes da história do futebol mundial, uniam enorme talento para jogar fora e dentro da área. Romário era mais genial nos pequenos espaços, na antevisão do lance. Dava dois passos para o lado, recebia a bola antes do zagueiro e finalizava.

Ronaldo era mais espetacular nas arrancadas com a bola, da intermediária para o gol. Os dois eram também magistrais na penetração, no momento certo, para receber a bola na frente.

Análises equivocadas sobre os centroavantes ocorrem com frequência, porque todos, mesmo os grossos, costumam, por causa da proximidade do gol, se tornar artilheiros de uma ou outra temporada.

As três principais seleções europeias, França, Espanha e Alemanha, não possuem um grande centroavante. O técnico Deschamps insiste em escalar Giroud ou Lacazette, em vez de Mbappé, com a alegação de que o atacante do PSG atua pelos lados, posição em que a França tem outras ótimas opções.

A Alemanha procura e não acha um bom substituto para Klose. A Espanha tem Morata e Diego Costa, bons, mas nem tanto.

A Argentina tem Agüero, que não é o do Manchester City. O Uruguai é a única seleção que tem dois ótimos centroavantes, Suárez e Cavani. Os dois se movimentam muito e fazem muitos gols, contrariando o lugar comum de que não há lugar para dois centroavantes.

Assim como na vida, existe no futebol o hábito de tratar coisas parecidas, porém diferentes, como se fossem iguais. É mais fácil rotular e repetir. Não são fake news. São autoenganos, novas e falsas verdades.

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