Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
VINHO ENCORPADO
Vinícolas buscam aumentar produção com mais plantas por hectare sem perder qualidade
Não há mais espaço para um crescimento apenas horizontal da vitivinicultura. São necessárias renovação e busca de qualidade da uva e, consequentemente, do vinho.
É o que procuram as vinícolas hoje. "O vinho é um reflexo do lugar", diz Sebastián Ruiz, enólogo-chefe da vinícola Tarapacá, localizada no Vale do Maipo, no Chile.
Por isso, o conhecimento do solo, do clima e até da natureza autóctone é importante para a descoberta do conceito do vinho.
"Erramos muito no passado, quando a visão era a de apenas plantar, produzir e vender", diz ele, referindo-se ao fim dos anos 1980.
E é o que Ruiz busca nos 605 hectares de área plantada da vinícola Tarapacá.
A conjugação de uma viticultura moderna passa de cepas e clones aprimorados ao conhecimento das respostas do solo onde estão plantadas as videiras.
Há dois anos, Sergio Serrano, administrador da vinícola, vem estudando o solo. Abriu valas nas diversas áreas da plantação para avaliar a complexidade do terreno.
Terrenos argilosos, com pedras pequenas ou grandes, profundidade das pedras. Tudo isso merece análise, e as respostas a essas dúvidas vão resultar em um produto de melhor qualidade.
A adequação da variedade da uva ao terreno vai permitir uma elevação do número de plantas por hectare, sem perder a qualidade.
Nas renovações que vem fazendo no campo, Serrano afirma que a intenção é por atingir uma média de 5.000 plantas por hectare. Com isso, a vinícola consegue ter uma oferta maior de uva para a produção de vinhos de melhor qualidade. A produção média por planta é de 900 gramas.
Os desafios continuam também do outro lado da cordilheira dos Andes. No vale do Uco, na Argentina, Edward Flaherty, enólogo-chefe da vinícola Tamarí, um californiano com passagens pelo Chile e pela Europa, diz que um dos desafios para ele é entender a região.
"A Argentina não é só malbec, mas há espaço para outras variedades." É preciso entender a natureza da região, que tem uma qualidade impressionante de luz, mas também um clima complexo, que é seco e afetado por geadas e fortes ventos, afirma.
Exigente com o resultado final do produto, Flaherty diz que não há vinho perfeito. "Não há vinhos de 100 pontos", em referência à escala criada para determinar a classificação da bebida. "Por isso, a minha satisfação é produzir um bom vinho, com preço mais acessível ao público. O consumidor busca valor e qualidade", diz.
A busca por novos caminhos exige, no entanto, investimentos pesados, segundo Manuel Bianchi, diretor de viticultura da vinícola Tamarí.
Boa parte dos parreirais tradicionais -e com variedade inadequada para a área- está sendo substituída.
Toda a produção é feita com irrigação e, no caso específico da vinícola Tamarí, toda a videira é coberta com telas para evitar os estragos de granizo e de ventos.
BRASIL
Voltadas para a produção de vinhos classificados como reserva e gran-reserva, tanto a vinícola chilena como a argentina estão de olho no crescente mercado brasileiro.
"O momento da economia brasileira não é favorável, mas temos de manter a busca da qualidade e ter uma visão de longo prazo", afirma Sebastián Rios Dempster, diretor-geral da Tamarí.
Javier Vila, diretor de exportação para o mercado brasileiro das duas vinícolas, diz que a alta do dólar, repassada para os preços, faz o consumidor brasileiro mudar de faixa de produto. Mas ele acredita em uma acomodação desses preços.
O jornalista viajou a convite das vinícolas Tarapacá e Tamarí
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