Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Crise econômica não afeta dólar nem preços agrícolas
Crises no Brasil sempre respingam sobre preços e comércio agrícola. O dólar fica instável —com tendência de alta—, favorece exportações e eleva preços internos.
A atual crise tem efeitos tão intensos na política que nem o dólar consegue reagir. Além disso, apesar de o país ser líder em produção e exportação de vários produtos agrícolas, o mercado externo ignora o cenário do Brasil.
O resultado é que o mercado olha só para Chicago e para os efeitos da supersafra colhida nos Estados Unidos e na América do Sul.
O câmbio está em R$ 3,10, o mesmo valor de um mês atrás, e não consegue acelerar exportações. A soja, o principal item da pauta de exportação agrícola, estava a R$ 66 a saca há dois meses. Nesta segunda-feira (17), terminou o dia sendo negociada a R$ 59,5, uma queda de 10%, conforme a agência AgRural.
O mercado não perde de vista também os números de plantio nos Estados Unidos em 2017/18. No caso da soja, voltam a ser recordes.
Os fundos de investimento colocam os preços ainda mais para baixo. Em meados de fevereiro, eles tinham em suas carteiras 23,2 milhões de toneladas de soja compradas. Por algum motivo ainda acreditavam em alta de preços.
A partir daquela data começaram a vender até zerarem os estoques. Na semana passada, adotaram posição inversa e já tinham 4 milhões de toneladas vendidas. Ou seja, acreditam em cenário de queda para a oleaginosa.
O mercado financeiro, com aversão a riscos no momento, também coopera para a queda dos agrícolas. Os investidores apostam em ouro.
Por ora, os bons preços de 2015 e início de 2016 ficaram para trás. Além disso, o dólar, ligeiramente forte e estacionado no patamar atual há várias semanas, torna o produto brasileiro menos atrativo no mercado internacional.
TILÁPIA SOBE
Profissionalismo dos produtores e uso de tecnologia vêm imprimindo um avanço grande na indústria de pesca. Uma das principais evoluções é a produção de tilápia, cujo aumento foi de 80% de 2005 a 2015.
A regulamentação do uso das águas públicas, permitindo o cultivo intensivo em tanques-redes, e o adensamento da produção em viveiros escavados elevaram a produtividade.
A tilápia é o peixe mais cultivado no país, que tem a seu favor vários fatores. Entre eles, clima favorável, rusticidade da espécie, forte demanda e bom resultado em cultivos intensivos.
Essas conclusões fazem parte do projeto "Impacto Socioeconômico da Tilapicultura no Brasil", da Embrapa Pesca e Aquicultura do Tocantins.
Renata Melon Barroso, coordenadora do projeto, diz que os piscicultores entenderam que o profissionalismo os torna competitivos.
A rentabilidade, de 10% a 20%, permite ao produtor investir em aquisição de equipamentos e melhora da alimentação dos peixes.
A tilápia, conhecida e aceita em todo o país, ainda pode ganhar espaço no mercado interno. Além disso, a aceitação externa fará com que o país passe a ser um grande exportador, de acordo com Barroso.
MILHO
Os produtores de Mato Grosso apostam na exportação, que deve atingir 15 milhões de toneladas em 2016/17. A produção será de 26,5 milhões, segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).
INFLAÇÃO
Os preços dos produtos agropecuários caíram 3,43% nos últimos 30 dias até o dia 10 deste mês, segundo o IGP-10. Com isso, o recuo acumulado no ano é de 7,2%; e o dos últimos 12 meses, de 2,5%, segundo a FGV.
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