Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Brasil deve dobrar área de algodão em cinco anos
Mauro Zafalon - 3.jun.11/Folhapress | ||
Plantação de algodão no oeste da BA |
Após um 2016 sofrido, mas um 2017 com bons rendimentos, os produtores de algodão se animam e projetam uma constante evolução da área a ser destinada a esse produto a partir de agora.
O plantio, que está atualmente em 940 mil hectares, poderá atingir 2 milhões em cinco anos, segundo avaliação de Arlindo Moura, presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão).
É uma cultura de risco, mas que pode trazer bons ganhos aos produtores, afirmou Júlio Cézar Busato, presidente da Abapa (Associação Baiana dos Produtores de Algodão).
Ele cita o exemplo do oeste baiano, onde os produtores, após uma produtividade de apenas 163 arrobas (15 quilos) por hectare no ano passado, conseguiram o recorde histórico de 315 neste ano.
"Perdemos muito dinheiro em 2016, mas estamos recuperando neste", disse ele.
Com isso, a área destinada ao algodão pelos produtores baianos deverá subir para 280 mil hectares na safra 2017/18, acima dos 202 mil da anterior. O setor realiza o 11º Congresso Brasileiro do Algodão, em Maceió.
A evolução interna da área plantada é essencial para que o país possa ter maior influência no mercado externo, segundo Moura. O Brasil não está entre os primeiros produtores mundiais de algodão. É o quinto.
Esse aumento pode ocorrer em vários Estados, além de Mato Grosso e Bahia —principais produtores— e em diferentes tamanhos de propriedades.
"A produção de algodão não deve ser coisa apenas de grandes produtores. Pode e deve ser alocada em pequenas áreas e em pequena escala. Contribui para o aumento de oferta de produto no Brasil", diz Moura.
O presidente da Abrapa alerta, no entanto, para o fato de que quem não tem muito conhecimento do setor deve começar o plantio em pequena área, aumentando-a aos poucos.
Isso porque o capital envolvido nas lavouras de algodão é bem maior do que o nas demais culturas.
Em média, o custo de produção é de R$ 8.000 por hectare, enquanto o da soja fica em R$ 3.000.
A expansão do algodão no país é importante não apenas para aumentar a renda do produtor mas para melhorar a atividade econômica em todos os municípios onde estão localizadas as lavouras. A cultura emprega três vezes mais trabalhadores do que as outras lavouras de grãos, segundo Busato.
O algodão tem o quarto maior Valor Bruto de Produção nacional. O Ministério da Agricultura estima que o VBP dessa cultura atinja R$ 21,1 bilhões neste ano. A soja lidera com R$ 116 bilhões.
Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam produção de 1,5 milhão de algodão em pluma na safra 2016/17, um aumento de 18% em relação à anterior. Para 2017/18, Moura acredita em uma alta de 17% na área e de 16% na produção.
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Valor da preservação - As terras preservadas pelos produtores brasileiros, se comercializadas, valeriam R$ 4 trilhões, segundo Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Embrapa. Só os produtores de Mato Grosso teriam uma poupança de R$ 400 bilhões.
Gestão territorial - O Brasil é o país que tem o maior percentual de conservação de terras do mundo. Um dos desafios para o país será uma gestão territorial dessas terras, segundo Miranda.
Legislação - Para o pesquisador, será necessária uma evolução na legislação, tendo como base a ciência e a tecnologia. O manejo dessas áreas é prioritário. Ele vai do controle de doenças à proliferação de animais, como javalis.
Industrialização - O Brasil deverá avançar na área de algodão nos próximos anos, mas a industrialização do produto será difícil, devido à falta de energia e à logística precária nas principais áreas de produção.
Desproporcional - Os cotonicultores brasileiros precisam de muita eficiência na produção para compensar os custos de transporte. Os australianos gastam US$ 18 por tonelada para levar o algodão aos portos; os americanos do Meio-Oeste, US$ 25, e os brasileiros, US$ 90.
O jornalista viajou a convite da Abrapa
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