Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Campo continua segurando a inflação
Felipe Gabriel - 10.ago.2016/Folhapress | ||
Alimentos que são doados do banco de alimentos do Ceagesp |
O comportamento dos cereais e dos hortifrútis ajudou a manter a inflação sob controle nos últimos 12 meses. Já as carnes, mesmo perdendo preço no primeiro semestre do ano, ainda impulsionam a taxa no acumulado deste período.
Um dos principais pesos no bolso do consumidor, no entanto, vem da alimentação fora de casa, mesmo com a queda de preços de boa parte dos alimentos. Itens como gás e impostos elevam os custos dos restaurantes.
A inflação média geral subiu 2,2% nos últimos 12 meses no município de São Paulo. Já os alimentos caíram 0,8%, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Nos supermercados, os cereais lideram as quedas de preço porque, após uma colheita magra em 2016, a safra de grãos deste ano foi recorde.
O preço do feijão acumulou recuo de 59% nos últimos 12 meses, enquanto o do arroz caiu 9% no período. Os preços desses produtos devem continuar baixos nos próximos meses. O arroz tem queda em plena entressafra, e a oferta de feijão é boa.
Os produtos "in natura" foram favorecidos pelo clima e já acumulam queda de 7% em 12 meses. As frutas, devido à boa oferta, tiveram redução de 12%. Legumes e verduras também caíram, mas em ritmo menor.
O tomate, um dos tradicionais itens de peso na inflação, teve recuo de 10% de outubro do ano passado a setembro deste ano.
Reflexo da queda de preços do leite no campo, os lácteos também pesam menos no bolso dos consumidores. A retração média foi de 4% em 12 meses.
A demanda menor por esses produtos e a queda de renda dos consumidores também favorecem a redução dos preços.
CONTRAMÃO
As carnes bovina e suína estiveram na contramão dos demais alimentos, devido à forte alta no ano passado, quando os preços foram recordes
.
A carne bovina acumula elevação de 5,5% em 12 meses. No primeiro semestre, devido às operações da Polícia Federal e a dificuldades de compra de gado pela JBS, líder no setor, os preços caíram. No mês passado, no entanto, retomaram o caminho da alta.
O preço interno da carne de frango também se recuperou no mês passado, com alta de 3%. Em 12 meses, no entanto, acumula queda de 5%. Já a carne suína, devido às exportações menores, perdeu preço no mercado interno em setembro.
CAFÉ
Os consumidores estão sentindo no bolso também a forte aceleração de 17% nos preços do café nos últimos 12 meses. A oferta reduzida da matéria-prima, principalmente de café conilon, pressionou os preços.
A oferta deste ano, embora ainda não totalmente recomposta, será melhor.
Tradicionalmente o café não acompanha a taxa de inflação. Desde o início do Plano Real, a matéria-prima em pó subiu 209%, abaixo da inflação média do período, que foi de 384%.
Com o retorno das chuvas, o plantio de grãos da safra 2017/18 seguirá com bom ritmo. É provável que a oferta de alimentos continue favorável no ano que vem.
A redução de preços pode, porém, desincentivar o produtor. É o caso dos arrozeiros, que já pensam em dedicar parte da área de plantio de arroz para soja e pecuária. Se isso ocorrer, a oferta do cereal diminuirá, e os preços voltarão a subir.
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