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valdo cruz

 

06/05/2011 - 20h30

Dilma: afinando o discurso da inflação

Ainda se recuperando da pneumonia, a presidente Dilma Rousseff começou a trabalhar cedo na sexta-feira. Do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, ela convocou alguns assessores logo cedo para afinar o discurso sobre um número nada agradável que seria divulgado praticamente no mesmo momento no Rio de Janeiro: o IPCA de abril, de 6,51%, que bateu o teto da meta de inflação.

A ordem da presidente Dilma era tentar evitar visões "pessimistas" e "alarmistas" sobre a notícia ruim a ser divulgada pelo IBGE. Afinal, a inflação acumulada nos últimos doze meses superou o teto da meta antes do que o governo gostaria. Tecnicamente, diz o governo, ainda não superou. Bateu no teto, mas não o teto. Um detalhe, porque em maio, com certeza, vai superar o teto de 6,5%, dois pontos acima do centro da meta, de 4,5%.

Dilma está convencida de que precisa ganhar a batalha das expectativas, que seu governo vinha perdendo desde o início do ano. Daí sua decisão de reunir sua equipe logo cedo para ensaiar o discurso a ser divulgado para imprensa, mercado e empresários nos próximos dias.

O momento, apesar do dado ruim divulgado, é mais favorável ao governo na sua busca de convencer os agentes econômicos de que a inflação tende a cair nos próximos meses. Resultado das últimas decisões da equipe da presidente Dilma: juros em alta por tempo "suficientemente prolongado", decisão real de fazer um ajuste fiscal e nada de pauladas no câmbio que poderiam colocar mais fogo na inflação.

Durante a reunião que realizou com assessores no Alvorada, Dilma ensaiou com sua equipe o discurso de que a inflação divulgada ontem era um "olhar no retrovisor", que o "pior momento já passou" e que é preciso olhar para a frente. Mais precisamente os dados mensais dos índices de preços, e não o percentual acumulado nos últimos doze meses.

Esse último dado vai continuar subindo nos próximos meses. Começa a declinar apenas a partir de outubro. Os índices mensais, contudo, já vão começar a declinar a partir de maio. Projeção tanto do governo como do mercado. Enquanto a inflação mensal de abril ficou em 0,77%, o governo já fala em número abaixo de 0,50%. O mercado, na média, projeta 0,43%.

A certeza advém, em boa parte, de uma informação que o próprio governo não gosta de comemorar. A economia está desacelerando. E vai desacelerar mais no segundo semestre, quando as medidas já adotadas pelo governo começarão a surtir mais efeito na contenção do crédito, na busca de esfriar o apetite de consumo dos brasileiros.

Por enquanto, a equipe do Ministério da Fazenda insiste que o crescimento da economia em 2011 deve ficar em 4,5%. O Banco Central fala, oficialmente, em 4%. Reservadamente, porém, há quem diga no governo que o número pode ficar um pouco abaixo de 4%. Tudo bem, seria o preço a ser pago para garantir uma inflação declinante neste ano, para convergir ao centro da meta em 2012.

Em outras palavras, o governo Dilma deve ser forçado a aceitar algo que não queria. Em nome de segurar a inflação, a presidente deve concordar que o crescimento não seja exatamente o que ela desejava. Esse discurso, contudo, o governo não vai assumir publicamente.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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