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vanessa barbara

 

08/08/2012 - 03h55

Euforia olímpica

Estou hospedada num sobrado repleto de italianos, onde a língua oficial todo mundo sabe qual é: o grito.

O Gianluca é crupiê e trabalha num cassino em Stratford, ao lado da Vila Olímpica. Ele vive gripado e anda pelo corredor de moletom, cabisbaixo, mas nos últimos dias parece contagiado pelo clima olímpico: Gianluca agora desce as escadas cantarolando e jogou vôlei comigo na cozinha domingo à tarde, ocasionando um pequeno incidente com uma xícara de Nescau.

O Giuseppe, que mora no andar de baixo, trabalha num restaurante. Ele também parece mais animado e falante, assim como seu colega de quarto, o Marco, que pratica tênis na parede.
Como previa o prefeito de Londres, a euforia olímpica alastrou-se pela cidade. No metrô, visitantes saltam barreiras como se estivessem numa corrida de obstáculos, e mágicos contratados fazem momices com baralhos.

Não sei que bicho mordeu os voluntários, mas, logo cedo, na entrada do Parque Olímpico, somos recebidos por saltitantes sujeitos com uniformes magenta e gigantescas mãos de espuma, cumprimentando os passantes numa confraternização quase infantil. É com imensa alegria que eles oferecem ajuda, dão indicações e saúdam o público. Na arena de basquete, um coletor de ingressos se dedica a uma dancinha solitária de puro contentamento. Em Earls Court, uma mulher deseja um dia maravilhoso. Ao megafone, um voluntário grita: "Eu amo vocês!", ao que um popular responde: "Nós também". Sem querer perder a disputa, ele retruca: "Eu amo mais!".

É assim por toda parte, como se os voluntários estivessem sob o efeito de alguma substância ilegal. Do alto de suas cadeirinhas, são como salva-vidas zelando pela satisfação dos transeuntes: "Sorriam! Esta é uma ocasião especial que contaremos para os filhos... dos filhos... dos filhos... dos filhos... dos nossos filhos", narrou Rachel Onasanwo, 23, com um tom monocórdio que fez sucesso no YouTube.

Segundo o "Guardian", os voluntários receberam um manual de etiqueta com 66 páginas contendo regras de conduta para recepcionar os espectadores dos Jogos. "Seja sempre otimista e educado", diz o documento. "Agradeça ao visitante mesmo que você o esteja ajudando e não se esqueça de sorrir."

Ao abordar estrangeiros: "Lembre-se que falar ou compreender a língua inglesa não tem nada a ver com a audição ou a inteligência da pessoa. Então não é preciso falar alto, apenas de forma clara".

Eles se revezam em turnos de cinco horas e recebem uma ajuda de custo no valor de cinco libras (cerca de R$ 15) por dia, o que é pouquíssimo para os padrões britânicos. Álcool é proibido. Talvez estejam é alucinando de fome.

vanessa barbara

Vanessa Barbara, jornalista, cronista e tradutora, assina coluna de crítica de TV. É autora de 'O Livro Amarelo do Terminal' (Ed. Cosac Naify, Prêmio Jabuti de Reportagem) e 'O Verão do Chibo' (Ed. Alfaguara, com Emilio Fraia). É editora de 'A Hortaliça' (www.hortifruti.org) e colaboradora da revista 'Piauí'. Escreve aos domingos.

 

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