É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Teoria do poste
SÃO PAULO - Um maremoto de desconfiança engolfou a política tradicional em junho de 2013 e derrubou a popularidade de governantes e legisladores sem fazer distinção de partido. Com o passar do tempo, alguns conseguiram sair do buraco.
O mais recente Datafolha mostra recuperação do governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). O paulista retomou mais da metade da aprovação perdida durante a revolta. O carioca, 1/3.
A primeira avaliação de Luiz Fernando Pezão (PMDB), que assumiu em abril no lugar do desgastado Sérgio Cabral, também sugere que a bronca dos fluminenses contra o seu governador diminuiu.
As duas exceções, Dilma Rousseff e Fernando Haddad, estão na conta do ex-presidente Lula. São os chamados postes, os novatos sacados do bolso do colete do líder petista para disputar e vencer a Presidência da República, em 2010, e a Prefeitura de São Paulo, dois anos depois.
Nem Dilma nem Haddad superaram o baque. Seus governos hoje ostentam os mesmos níveis da avaliação ótima ou boa aferida no mergulho de junho de 2013. No quesito ruim/péssimo, estão piores.
É cedo para escrever a teoria do poste e tirar lições desses experimentos. Dilma possui boas condições materiais para alterar o quadro até outubro. Haddad tem mais da metade do mandato pela frente.
Mas talvez haja um preço a pagar pela queima de etapas na política. Parece que não é apenas negativo o saldo da pressão darwiniana imposta aos líderes que sobrevivem após décadas de disputas eleitorais, vencidas e perdidas, e de negociações labirínticas pelo poder.
Paradoxalmente, o aprendizado extraído de longas carreiras na política partidária –atividade desprezada pelo espírito de junho de 2013– pode ter ajudado a içar governantes do fosso da impopularidade. Quem ficou parado é poste.
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