É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Desmame para a USP
SÃO PAULO - Os professores da USP têm razão no mérito do debate que irrompeu após a divulgação dos salários da instituição, fruto de ação judicial vencida pela Folha. Não deveria haver limite horizontal para os vencimentos de docentes e pesquisadores na vanguarda da academia.
O problema é que não dá para brincar de ser estatal apenas com o que há de vantajoso no modelo —a estabilidade, as isonomias salariais e a aposentadoria integral. É necessário também roer ossos, como subjugar-se ao teto salarial da Constituição e à regra que manda divulgar os vencimentos individuais.
A USP pode, e deveria, aventurar-se pelo que há de mais moderno e eficiente na gestão universitária. Suas unidades correriam o risco de granjear liberdade acadêmica e financeira sem precedentes. Teriam autonomia para disputar os melhores quadros internacionais, oferecendo-lhes pacotes personalizados, seja de remuneração, seja de condições de trabalho.
O reitor também seria escolhido num concurso internacional, atraído por oferta financeira competitiva e perspectivas ambiciosas de atuação. Além de aumentar o prestígio da universidade, ele zelaria pela arrecadação de recursos na sociedade e pela administração racional e de longo prazo dos fundos, fincada no mérito.
Mas, para tanto, a USP precisa estar disposta a abandonar gradualmente o confortável, ainda que apenas por um lado, guarda-chuva estatal. Modelos jurídicos como o das organizações sociais, vitoriosos na saúde e na cultura, poderiam ser adaptados à universidade.
O desmame incluiria a diminuição paulatina —à metade em dez anos, por exemplo— do financiamento estatal. Deveria ser elevada a modesta alíquota de 4% do imposto estadual sobre heranças e doações; as universidades ficariam isentas do tributo ao receberem doações. Seria instituída a cobrança de mensalidades de quem pode pagar.
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