É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Podemos?
SÃO PAULO - Dos movimentos esquerdistas que surgiram ou se fortaleceram na esteira da crise global do final da década passada, o Syriza, que hoje governa a Grécia, foi o mais bem sucedido. O Podemos, que começa a vencer eleições regionais na Espanha, vem em segundo lugar.
Trata-se, nos dois casos, de experimentos inovadores e interessantes, que oxigenam a sociedade e as práticas políticas na Europa. Também jogam areia nas engrenagens da máquina de moer renda, empregos e benefícios sociais que caracteriza a transição ao período de vacas magras.
O aspecto criticável do levante progressista –sua crença no voluntarismo político como ferramenta para superar as restrições materiais– não é assim tão novo. Mas é perigoso a ponto de produzir cataclismos se for levado até o fim.
O Syriza debate-se com o dilema existencial de ou manter-se fiel à plataforma nacionalista e antiarrocho que o conduziu ao poder ou ceder à União Europeia e ao FMI, cortar aposentadorias e elevar impostos a fim de assegurar os empréstimos que mantêm a Grécia respirando.
Os credores arquitetaram um forte sistema imunológico a dificultar que o eventual calote grego arraste para o precipício grandes bancos globais e economias menores que também adotam o euro. Em caso de ruptura, apenas os gregos deverão arcar com as piores consequências.
Recessão, desemprego e inflação brutais, colapso bancário e falências em cadeia seriam resultados previsíveis da manutenção do programa do Syriza. Os gregos ver-se-iam reduzidos de chofre à pobreza material do seu presente, a qual os empréstimos, ao lançarem a conta para futuro mais promissor, ajudam a mascarar.
Ceder aos credores externos, por outro lado, ameaça levar à queda do governo parlamentarista grego e à morte súbita do experimento. Podemos radicalizar? Ou devemos buscar um meio termo?
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