É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Morte por asfixia
SÃO PAULO - Democracias organizadas possuem moeda estável. Ditaduras jamais a possuirão, como o mundo começa de novo a perceber no periclitante yuan chinês. Regimes democráticos imaturos tampouco desfrutarão desse benefício.
Moeda estável é a resultante de uma sociedade que estabeleceu regras universais e duradouras de resolução de conflitos, garantiu a alternância e o controle do poder político, compromissou-se com o realismo orçamentário e aderiu ao mecanismo aberto e competitivo do mercado.
O Real, em 1994, foi só um passo na progressiva estabilização monetária brasileira. O enquadramento fiscal de União, Estados e municípios, a redução do peso de empresas e bancos estatais e sua exposição à competição, a autonomia de fato concedida ao BC para estabilizar o poder de compra, além de uma série de reformas para facilitar os negócios e atrair empreendedores, foram mais importantes.
O vexame de subordinação encenado na semana passada pelo chefe do BC, Alexandre Tombini, figura por sua vez como fator isolado menos determinante no paulatino desmonte daquele edifício, em curso desde meados da década passada.
Bloqueou-se a competição no setor do petróleo, incharam-se a Petrobras e os bancos estatais, vilipendiou-se o Orçamento da União, afrouxou-se o controle das finanças subnacionais, permitiu-se a volta de maluquices como os confiscos que Estados executam nos depósitos judiciais para saldar despesas públicas correntes.
Nesse ambiente, a ambição de manter estável o poder de compra da moeda veio a óbito por asfixia. Tombini apenas exibiu o atestado, num esquete de chanchada.
O descrédito no real, que produzirá mais inflação e estimulará corridas para opções que cumprem precariamente a função monetária, é o sintoma de uma falência mais profunda, de uma derrota que nos distancia do desenvolvimento.
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