É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Nos jogos da vida, inventar boas regras é crucial
SÃO PAULO - A disputa concentrada de 41 modalidades olímpicas é um manancial da criatividade humana para inventar regras. Oferece uma amostra do que têm feito as sociedades nos últimos dez milênios.
Como estimular a competição de modo a que os jogadores deem o seu melhor, não desistam precocemente, não trapaceiem e aceitem o resultado? Na vida cotidiana, há preocupações parecidas.
Equipes ou competidores que abrem uma vantagem inicial tendem a evitar o combate e a empregar conduta artificiosa para fazer o tempo passar. A fim de evitar a acomodação, o juiz do handebol pode ordenar, sob pena de punição severa, que uma equipe defina depressa o ataque.
Nos embates corporais, a falta de engajamento é desestimulada por meio de sanções às vezes notáveis. A pessoa advertida na luta olímpica tem 30 segundos para pontuar golpeando o adversário, que ganha o ponto caso isso não ocorra.
Analogamente, a empresa que desenvolve uma inovação costuma dispor de certo tempo para explorá-la com exclusividade. Depois desse intervalo, outros competidores são autorizados a comercializá-la.
As democracias mais maduras procuram punir com impostos salgados a transmissão de bens de pais para filhos. Além disso, destinam parte significativa da renda nacional ao ensino básico de qualidade semelhante para todas as crianças.
A premissa é aproximar as condições de competir entre os jovens trabalhadores, diminuindo a influência de fatores acidentais, como a riqueza familiar. O jogo não fica apenas mais justo e equilibrado, mas também mais dinâmico e produtivo.
O tênis, o vôlei e as lutas adotaram tecnologias capazes de corrigir decisões instantâneas dos árbitros. No jogo da vida, poderes submetidos a controles eficazes e transparentes produzem mais confiança e adesão. Vitória e derrota se tornam resultados igualmente aceitos por todos.
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