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vinicius torres freire

 

25/09/2012 - 03h00

Estatização bancária e Dilma

No mês do estouro da presente crise financeira, em setembro de 2008, os bancos públicos eram responsáveis por 34,2% do dinheiro emprestado no Brasil (do "estoque de crédito"). Em julho deste ano, tinham 45,4%.

Não é muito errado dizer que, na prática, o governo abocanhou um banco com 11% do crédito. Isto é, um banco do tamanho dos maiores bancos nacionais.

Se o governo tentasse estatizar um bancão privado, haveria, claro, escândalo, goste-se ou não da ideia. Mas, goste-se ou não, o setor bancário ficou mais estatal sob Lula e Dilma. Lula não bulia com bancos até a crise de 2008. Na verdade, sua virada "esquerdista" na economia ocorreu apenas na crise.

Foi então que adeptos e simpatizantes de Lula e gente mais à esquerda passaram a falar de boca cheia sobre "desenvolvimentismo", botando no mesmo saco a expansão das políticas sociais (de matriz no fundo tucana) com intervenções diretas no mercado.

É um "desenvolvimentismo acidental", como acidentais, mais ou menos improvisadas e pragmáticas, foram tantas políticas na história. Como foi o "keynesianismo avant la lettre", antes de Keynes, nos EUA dos anos 1930, ou o próprio desenvolvimentismo brasileiro original, inventado aos trancos e barrancos entre os anos 1940 e 1960.

Claro que inclinações intelectuais e políticas de governantes e partidos, além do clima da época, propiciam viradas para esta ou aquela direção. No meio do caminho, inventa-se uma teoria ou recicla-se uma velha para justificar ou legitimar decisões tomadas muita vez mais por precisão do que por boniteza.

Dilma é "estatista"? Retomou o caminho "liberalizante" ao prometer privatização de estrada, porto e aeroporto? Faz política macroeconômica mais "heterodoxa"?

Dilma é mais intervencionista, mas tomou decisões maiores devido ao desejo de retomar o crescimento econômico de curto prazo. A decisão mais planejada, ao que parece, foi nomear uma diretoria do BC menos ortodoxa e mercadista. No mais, foi se arranjando.

Ministra de Lula, detonou um plano de reduzir rapidamente dívida e deficit. Já presidente, fez um pacto com o BC, segurando gasto a fim de tornar possível a redução de juros.

Era contra a privatização de infraestrutura até perceber que não haveria aeroporto para a Copa e que o governo é lentérrimo, inepto ou bandido quando precisa fazer investimentos.

Mas foi para o confronto com a banca no caso dos juros (aliás, ontem o Bradesco baixou espantosamente sua taxa de juros no cartão de crédito). Voltou a acelerar a "estatização" do crédito no país.

Acabou de arrumar mais de R$ 21 bilhões para o capital do Banco do Brasil e da Caixa, a fim de permitir avanço ainda maior da banca estatal. Neste ano, desde o início da campanha contra juros altos (abril), os bancos públicos foram responsáveis por 73% do aumento do crédito no Brasil. Mais ou menos como na crise de 2008-09.

Mas, se a banca privada voltar à ativa, Dilma vai insistir na "estatização"? Decerto esse tumulto de decisões tem alguma direção e vai fazer diferença (em especial no caso dos juros menores, se ficarem menores). Mas não dá para pensar o jeitão da coisa e o andar da carruagem se apegando a rótulos.

vinicius torres freire

Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos

 

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