Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.
Quem liga para o ministro da Energia?
O ministro da Fazenda nem tomou posse e continua a aumentar a fila de pessoas e instituições na entrada da porta da esperança, digamos. Isto é, a fila de quem acredita que o "duro ajuste fiscal", a cargo de Joaquim Levy, o ministro virtual, vai estancar a degradação da economia brasileira.
O Banco Central acaba de se juntar à porta da esperança, pelo que se depreende da exposição de motivos e discussões da mais recente reunião do BC para definir juros, conhecida como ata do Copom, divulgada nesta quinta-feira.
O pessoal do BC diz que não dá para descartar a possibilidade de que a contenção de gastos prometida pelos novos economistas de Dilma Rousseff colabore para a limitar a atividade econômica, facilitando o trabalho da política monetária (dando menos impulso à inflação).
Mais que isso, os diretores do BC acreditam mesmo que se tornou mais provável que o governo pare de doar dinheiro às empresas por meio do BNDES. Haveria menos empréstimos; a taxa de juros "básica" dessa linha de empréstimo (TJLP) subiria.
Em suma, o Banco Central se junta a todos aqueles que esperam de Joaquim Levy pelo menos a arrumação básica das contas do governo, uma poupancinha bastante para indicar que não haverá degringolada da dívida e o fechamento do dinheiroduto que leva dinheiro caro do Tesouro, do governo, para empréstimos a custo zero para empresas.
A direção do BC pode ter bons motivos para acreditar que Levy terá condições de executar sua missão básica. Alexandre Tombini, presidente do BC, fez longa viagem com a presidente Dilma Rousseff antes da nomeação dos novos ministros da economia. Deve também ter batido um papão com Levy e com o ministro virtual do Planejamento, Nelson Barbosa.
Talvez, portanto, tenha motivos para estar mais confiante. Mas o problema do governo está obviamente longe de se limitar à Fazenda, mesmo no curtíssimo prazo.
Quase ninguém, afora os interessados específicos, dá a mínima para o nome do ministro de Minas e Energia, para o que virá a ser nomeado e muito menos para o atual. Para todos os efeitos práticos, a ministra de Minas e Energia era Dilma Rousseff, e o conjunto de sua obra colaborou para a degradação econômica do país.
As empresas do setor elétrico estão sob riscos de rombos enormes. Obras importantes, de geração à transmissão de eletricidade, atrasaram de modo vexaminoso e amadorístico. O setor de etanol está endividado e quebrando aos poucos, em parte devido à política desastrosa de preços para a gasolina.
A Eletrobras está praticamente quebrada. Nem se pode dizer que a "Petrobras tornou-se o que se sabe", porque nem se sabe o que será da empresa.
No entanto, a presidente discute entregar Minas e Energia para o PMDB. Em quais condições? O ministro será um dois de paus inepto e Dilma Rousseff vai centralizar outra vez também esse ministério? O setor de energia é sempre crucial.
No estado de desordem ou falência em que está, tornou-se um caso de emergência ainda porque tem contribuído para lançar grande descrédito sobre a possibilidade de recuperação da economia brasileira.
Quem liga?
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