Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

A turma no poder deve entregar um governo ainda quebrado para o próximo presidente. Michel Temer e seus economistas diziam que fariam "o ajuste". Não rolou.

Em parte, os planos estavam errados. Em parte, o governismo rasgou a fantasia e partiu para o abraço do dinheiro público, em particular depois do grampo de Temer e dos rolos de um governo com tantos restos a pagar na polícia.

"A turma no poder" é a coalizão que tomou o Planalto e Congresso depois de Dilma Rousseff. Seria injusto atribuir o fracasso todo do ajuste aos economistas de Temer.

Afora gastos na Previdência e com servidores, a despesa federal é menor que a de 2013, "valeu o esforço". Mas o investimento está à míngua e, no mais, o plano deu errado. O governo continua falido.

Nessa coalizão, há empresários e executivos de Patópolis, a turma do pato amarelo, inimigos de qualquer aumento de impostos, embora vários sejam amigos de outros dinheiros.

Alguns estão na mira da Lava Jato. Muitos fizeram lobby pesado para arrebentar ainda mais as contas públicas.

Uns arrumaram perdões de dívidas às dezenas de bilhões, via Refis ou em cortesias para ruralistas. Outros ficaram na mumunha dos incentivos para a "indústria nacional", algumas chupando chupeta faz 60 anos.

A coalizão tem ainda empresários que de fato dão apoio ao programa algo fundamentalista dos economistas de Temer, que pelo menos é um programa, goste-se ou não, não uma mutretagem.

No centro da lambança, há o centrão, o MDB e seu agregado DEM, operadores de lobbies das empresas amigas da coalizão e de si próprios. Fazem parte da casta, como o Judiciário dos penduricalhos, os servidores das aposentadorias exorbitantes etc.

Depois do grampo de Temer, quase todo o mundo tirou a máscara. Passou a dizer "tem de manter isso, viu", os favores estatais. O presidente, no bico do corvo, dizia que barganhava votos pela reforma da Previdência. Foram-se os dedos, roubaram os anéis.

Os economistas erraram a previsão de aumento de receita e, como o restante da coalizão, por outros motivos, rechaçam mais impostos. Então, o rombo se impôs.

O programa de privatização e concessões foi no geral um fracasso, não rendendo receita bastante e menos ainda obras. As castas estatais levaram reajustes, cortesia de Temer e de um de seus economistas; o empresário agregado ganhou umas proteções.

Essa gente indizível que é o governismo no Congresso não aprovou nem os remendos para cobrir as vergonhas do Orçamento de 2018.

Em fins de 2019, o "teto" de gastos deve explodir, afora um milagre de crescimento de 4% ao ano até lá, o que remediaria a situação, apenas. Ou o "teto" cai ou despesas serão arrochadas até a morte por asfixia. Ou vem um impostaço.

Se não houver a gambiarra de uma emenda da Constituição, o governo de 2019 ficará paralisado para não descumprir o limite de endividamento novo ("regra de ouro ). A meta de superavit talvez seja cumprida, pois foi tão alargada que nessa cova cabe quase qualquer defunto fiscal.

Quem sabe façam milagres neste 2018, arrochos operísticos para diminuir o tamanho da bomba fiscal de 2019. Mas o troço deu errado até aqui.

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