Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

De olho no julgamento de Lula, povo de Temer se espanca

Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress Presidente Michel Temer durante cerimônia no Planalto
Presidente Michel Temer durante cerimônia no Planalto

No final desta semana, começa o carnaval dramático do juízo final de Lula da Silva. Ainda que condenado à guilhotina política, o ex-presidente não seria executado tão cedo. Decepado, talvez caminhe até as vésperas da eleição com sua cabeça sob o braço, feito um mártir cristão medieval. Tem lá seu apelo, nesta terra de razões sobrenaturais.

Seja como for, as conversas de candidaturas a presidente ainda serão irrisórias antes do julgamento de Lula, no dia 24. De corpo presente ou ausente, o líder petista define a geometria da eleição.

Ainda assim, a turma de Michel Temer se dá cotoveladas a fim de ver quem marca 3% dos votos em eventual pesquisa eleitoral ou sobe no poleiro de cima para cantar mais alto sobre as definições políticas do Planalto. É apenas um dos sinais de desordem provinciana no governismo.

Desde a semana de Festas, o governo enche de azeitonas podres a empada vazia de notícias políticas das viradas de ano. Um vácuo do empadão foi recheado de picuinhas entre Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara, potenciais candidatos a talvez nada.

No dia seguinte ao Natal, o novo secretário de Governo, Carlos Marun (PMDB-MS), disse que trocava empréstimos da Caixa por votos a favor da reforma da Previdência. Foi acusado de chantagem por governadores. Estreia digna de um estafeta de Eduardo Cunha.

No dia seguinte ao Ano-Novo, Temer não conseguiu nomear um ministro do Trabalho, vetado pelo faraó José Sarney. Menos de uma semana depois, não conseguiu dar posse a uma ministra nomeada para o cargo, uma deputada que tem ficha corrida demais.

No dia 4, Maia e Meirelles reuniram-se para tratar de outra ruína das contas públicas, a "regra de ouro" para o endividamento extra do governo, que seria objeto de alguma gambiarra, pois o governo está quebrado. O papo vazou, pegou mal na praça do mercado. Meirelles disse que não era bem assim, deixando Maia com o remendo na mão. O presidente da Câmara rebateu com uma canelada.

Ou seja, o governo não sabe como lidar com um assunto explosivo, sua ruína financeira, e M&M, Maia e Meirelles, não conseguem evitar que suas vaidades deem mais vexame em um governo já superavitário de vergonhas. Por falar nisso, opróbrios, no dia 11 a nota de crédito do governo do Brasil foi rebaixada. Como se não bastasse, logo a seguir Meirelles e Maia voltaram a se bater, desviando-se de assumir responsabilidades pelo fiasco.

Temer, que deixara M&M amuados com elogios a Geraldo Alckmin, teve de intervir no fogareiro de vaidades, de novo. O pessoal do DEM saiu batendo em Meirelles, em público e privado, mesmo que Maia ainda nem seja candidato ao Planalto, pois é difícil que deixe uma reeleição certa para presidir a Câmara. Ainda assim, quer mostrar que agora também manda no pedaço, o grão-ducado do Baixo Clero.

Como a política está em desordem extensa, meio solta no espaço social, e o governo é esse universo de pequenez, a gente vê essas cenas de desarticulação política por um individualismo de avidez primária. Pelo quê? Pelo direito de se dizer "líder" da retomada econômica que ainda inexiste para o povo, um povo que detesta do fundo da alma o que diz respeito a este governo.

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