Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Galápagos nos mostra que a vida é um presente maravilhoso

Crédito: Valentina Fraiz Ilustra Turismo 24.08
Em Galápagos, Charles Darwin consolidou sua teoria de evolução das espécies

E quando a viagem é para visitar uma ideia? Você sabe, os motivos para abraçar o turismo são muitos.

Há os que viajam para ver monumentos e os que querem ver gente. Existem as viagens de fé (pergunte aos peregrinos) e as de pesquisa (coisa de cientistas).

As viagens de aventura, com objetivo de superar uma marca ou conquistar um ponto da Terra. E houve o tempo das viagens de descobrimento: encarar um oceano então infinito e chegar a um destino a ser explorado.

Mas e quando você vai a algum canto atrás de uma ideia?

Fui a Galápagos numa expedição assim, motivada apenas por um pensamento –diga-se, genial, uma vez que inspirou toda uma revolução na nossa maneira de encarar o mundo, quem somos e como chegamos aqui.

Mexeu até com a fé essa tal de "seleção natural". Ou ainda, para usar um de seus nomes mais elegantes, "a origem das espécies".

O homem por trás disso é o grande Charles Darwin, que em Galápagos consolidou a sua teoria.

Esse não é um espaço de ciência e tampouco sou eu um acadêmico no assunto.

Mas mesmo quem só assinou a lista de presença nas aulas de ciências já ouviu falar do cientista e sua "perigosa" ideia de que não estamos aqui por uma criação divina, mas graças a um processo espontâneo, belo e por vezes cruel que é a essência da própria Natureza (com "N" maiúsculo mesmo!).

Tamanha foi a importância das suas descobertas que o arquipélago no Pacífico, território equatoriano, a pouco mais de uma hora de voo de Quito, se tornou destino turístico –mesmo para quem só tem um interesse marginal pela ciência.

Eu mesmo visitei quatro de suas ilhas com famílias de turistas que estavam lá apenas para levar os filhos pequenos para nadar ao lado de tartarugas e leões-marinhos.

Se você só quer ver bichos, Galápagos é uma espécie de Disney da Natureza. Os minutos que passei de snorkel seguindo uma imensa tartaruga marinha, a uma distância de um palmo (sem nunca tocá-la, já que o respeito aos animais é uma condição básica para estar lá), foram alguns dos mais preciosos que já vivi viajando.

Sem falar na tartaruga gigante, terrestre, que é a coisa mais perto da pré-história que você pode experimentar.

Há uma "lista básica" de 15 animais típicos do arquipélago –algo ambicioso se lembrar que safáris na África convidam o visitante a ver de perto os "big 5": leão, elefante, búfalo, leopardo e rinoceronte.

Pelas contas do meu guia, que nos explicava tudo em inglês com a curiosa cadência de um humano ensinando um GPS a falar, meu grupo conseguiu ver 11. Flamingos, iguanas, falcões, gaivotas e, inevitavelmente, os leões-marinhos.

Os primeiros avistados nos receberam nadando quando nos aproximamos para desembarcar na ilha Fernandina.

Olhavam-nos entre um mergulho e outro, não exatamente com curiosidade, mas com a pouca paciência de quem tem sua rotina de lazer perturbada.

Justamente porque ali não estão ameaçados pelos humanos –como em Fernando de Noronha–, nós somos para eles uma mera turbulência no seu dia a dia. Mas eles para a gente são toda a beleza desse mundo nos recebendo num espetáculo natural.

Quatro dias depois, a visão de um leão-marinho descansando nas escadas de um cais em San Cristóbal (outra ilha do arquipélago) passa quase sem registro.

Foram tantas imagens que você precisa de um tempo para processar tudo: a dança de acasalamentos dos albatrozes; os filhotes de sula –o exótico pássaro de nadadeiras turquesas– trocando a penugem; o tubarão que esbarra em você com indiferença...

Mas, acima de tudo, o visitante deixa esse santuário feliz de ter captado a grande ideia de Darwin: a de que somos só mais um filho do acaso. E que a vida, de fato, é um presente maravilhoso.

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