Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

De Buenos Aires a Istambul, meus aniversários são com pessoas queridas

Eu ligo tão pouco para a minha idade que, como meus amigos já sabem, digo que já estou um ano mais velho no dia primeiro de janeiro —apesar de a minha certidão de nascimento não deixar dúvidas de que vim a este mundo no dia 8 de abril. Sim, você fez a conta certa: depois de amanhã é meu aniversário.

Completo 54 anos, mas essa é uma idade que, repito, digo que já tenho desde o Réveillon. Vou comemorar, claro, mas estou de olho mesmo é em 2018, quando vou ter um número mais "redondo". E, quando isso acontece, escolho o melhor presente do mundo: viajar.

Na verdade, eu presenteio não só a mim, mas também as pessoas queridas: um grupo que, desde que fiz isso pela primeira vez, vem crescendo —não porque vou colecionando afetos, mas pelas minhas possibilidades de convidar mais e mais amigos e amigas que amo. São eles que contam na escolha do destino.

Tudo começou em 2004, em Buenos Aires. Como você é bom de conta, percebeu que aquele não era um aniversário "redondo". Eu queria ter comemorado os meus 40 anos em grande estilo, mas a primeira dessas viagens acabou sendo aos 41. Levei um pequeno grupo de amigos ao primeiro lugar que visitei fora do Brasil, ainda criança.

Lembro-me bem da sensação de enorme prazer que tive ao juntar aquele bando querido em torno de uma mesa num restaurante que segue sendo até hoje um dos meus favoritos na capital portenha: Freud & Fahler. Ter a capacidade de estar num lugar do qual você gosta com gente que você ama era, percebi então, a melhor comemoração.

Aos 45, estava seguro o suficiente para aumentar esse grupo e ir um pouco mais longe: Portugal. Passamos dias ébrios em Lisboa, graças ao querido Pedro, da Garrafeira Alfaia. E seguimos ao norte, Amares, onde celebramos o 8 de abril num dos hotéis mais espetaculares onde já fiquei: Santa Maria do Bouro, um convento com séculos de história repaginado numa pousada de design.
Novamente, a alegria de ter pessoas próximas numa viagem era quase asfixiante.

E então fiz 50 anos, em 2013. Tinha um sonho de levar 50 amigos para minha cidade favorita: Istambul, na Turquia. Era um projeto ousado, queria juntar, além da família, pessoas importantes para mim em várias fases da vida: da faculdade à TV, passando pelos tempos da dança e os primeiros passos como jornalista, nesta própria Folha.

Não é que deu certo? Um casal querido na última hora não pôde ir, fechando nosso grupo com 48 viajantes. Mas consegui mais uma vez me dar o melhor presente do mundo. Muitos já conheciam a cidade. Porém, mesmo os que já tinham estado lá dividiam comigo o brilho nos olhos ao ver dervixes dançando no meio da Cisterna da Basílica, fechada especialmente para nós.

Um almoço na varanda do museu Istambul Modern, à beira do Bósforo. Um jantar (no próprio dia 8) com vista para Sultanahmet. Um fim de tarde com chás e quitutes no meio do Grande Bazar, cortesia do meu grande amigo Ismail, do Iznik Works. O passeio de barco pelo Chifre de Ouro, que nos levou até o hotel, uma antiga mansão otomana...

Cada uma dessas lembranças, mais as de Portugal e as de Buenos Aires, estão comigo, gravadas no coração. Nada que eu pudesse ter adquirido com o dinheiro que usei nessas viagens teria me trazido tanto prazer: para mim e para quem amo.

E é por isso que, ao comemorar meus 54 anos neste sábado, estou mesmo é de olho na festa que vou preparar no ano que vem. Onde? Bem, não quero estragar a surpresa para meus amigos que podem estar lendo esta coluna.

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