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Chefs criam festival de pimenta para estimular paladares avessos aos sabores picantes
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DE SÃO PAULO
O chef André Mifano, do paulistano Vito, não comia pimenta até topar com a cozinheira atrevida, a mexicana Lourdes Hernández.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Pimentas variadas do restaurante Pimenta Fantasma, no bairro de Pinheiros, em São Paulo |
Ao provar chiles e salsas na extinta Casa dos Cariris, descobriu que podia "recriar" seu paladar. Na cozinha de Lourdes, a pimenta não apenas "arde". Ela perfuma, realça sabores e dá complexidade.
Também mexicano, o "restaurateur" Hugo Delgado relata a mesma experiência no Obá, em São Paulo: ali ele busca introduzir esse produto e não "assustar o cliente quando assunto é pimenta".
Diante desse receio, Delgado organiza, pela segunda vez, um festival que tem o ingrediente como atração e que ocupará 12 restaurantes e bares da cidade a partir de amanhã -até o dia 20 deste mês.
Veja aqui a relação de restaurantes e pratos que participarão do festival
Juntas, essas casas pretendem estimular quem têm resistência ao condimento.
Diversos perfis de cozinha -coreana, mexicana, andina e brasileira- foram escolhidos para revelar a complexidade da pimenta.
O chef Carlos Ribeiro, do restaurante Na Cozinha, por exemplo, trouxe a baiana Tereza Paim (do Terreiro Bahia) para preparar moqueca e outros pratos.
Já o cardápio proposto pelo recém-inaugurado Pimenta Fantasma evidencia que pungência não é a única propriedade do ingrediente. Na carta, há diferentes gamas de pimentas -inclusive as perfumadas cambuci e biquinho, quase sem picância.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Vários tipos de pimentas |
ARDÊNCIA
É também a lógica no Obá, onde o menu com 21 receitas ganha uma escala de pungência -quanto mais pimentas, mais ardor terá a receita.
Pimenta-malagueta não é problema na música "Vatapá", de Dorival Caymmi. Nela, o baiano adiciona, repetidas vezes, um "bocadinho mais" do item à receita.
Mas a mesma abundância de pimentas não é comum em mesas paulistanas.
Para o historiador Ricardo Maranhão, coordenador da Universidade Anhembi Morumbi, o uso de pimenta em regiões tropicais (quentes) pode ser mais acentuado.
Isso porque muitas delas contém capsaicina, uma substância que estimula a circulação e a transpiração -fazendo com que a temperatura corporal se ajuste ao calor.
Quando Mara Salles abriu o restaurante Tordesilhas, em São Paulo, era comum ver clientes receosos em relação a sabores apimentados.
A mudança de hábito "foi um trabalho que começou há muito tempo", diz a chef e pesquisadora, que já realizou três festivais de pimenta.
Hoje, a casa tem um mestre-pimenteiro que indica as versões mais apropriadas para cada prato. Tucupi, por exemplo, é servido com cumari-do-pará. Feijoada, com pimenta-malagueta.
O ERRO DE COLOMBO
Quando rumava às Índias, obter pimenta-do-reino era um dos principais objetivos de Cristóvão Colombo.
Quando chegou à América, no século 15, o navegador descobriu alguns ingredientes que produziam a mesma sensação pungente que buscava. Batizou-os de pimenta.
Nativas desse continente, pertencem à outra família, a capsicum -fazem parte dela malagueta, jalapeño, dedo-de-moça e tabasco.
Especula-se que, não fosse o erro de Colombo, as pimentas americanas seriam chamadas de chiles ou "ajís".
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