Desfile de Tiradentes é marcado por ausência de autoridades no Rio de Janeiro
A solenidade em homenagem a Tiradentes, patrono da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi marcada pelo desfile de 330 estudantes de escolas públicas e de parte do efetivo da PM e pela ausência de autoridades municipais, estaduais, do Legislativo e do Judiciário.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) não compareceu, nem mandou como representante o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, ou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Da mesma forma, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) não compareceu, nem designou representante. O desfile ocorreu em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), batizada de Palácio Tiradentes, mas nem isso motivou o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), a prestigiar o evento.
Tampouco o presidente do TJ (Tribunal de Justiça), desembargador Luiz Zveiter, compareceu, embora o prédio do tribunal fique ao lado da Alerj.
Apesar da ausência de autoridades, o comandante da PM, coronel Gilson Pitta Lopes, minimizou o fato. "Infelizmente, foi em cima de um feriado prolongado. Provavelmente as autoridades tinham outros compromissos, até de ordem familiar. Então, não vejo demérito nenhum. Mais importante é a presença da comunidade, que tem entendido o sacrifício e o esforço da corporação nesses seus 200 anos", disse Lopes.
Já o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), ligado a setores militares e de segurança, avaliou negativamente a ausência de qualquer autoridade no desfile do patrono da PM.
"Lamentavelmente, a Polícia Militar vem sofrendo um sucateamento e desmantelamento da tropa. As autoridades esquecem e deixam de lado uma corporação importante como esta. Mas, sem dúvida alguma, quando o presidente da Alerj, o presidente do TJ, o governador, está em uma situação de risco, a primeira coisa que vem à cabeça é clamar à PM para que resolva o problema. Então a tropa tinha que ser muito mais reconhecida e muito mais valorizada pelas autoridades", afirmou Bolsonaro.
A ausência também foi criticada pela coordenadora do Mmai (Movimento das Mulheres de Atitudes Independentes), formado por mulheres de policiais militares, Márcia Machado. "É um descaso. Não veio representante nenhum. A polícia está na rua todo o tempo e é essa falta de prestígio total. Foi completamente decepcionante", disse.
A assessoria de Cabral informou que ele estava descansando com a família. Já a de Pezão disse que o desfile não constava de sua agenda.
A assessoria de Beltrame também alegou que a solenidade não constava de sua agenda. Já a de Paes disse que ele se encontrava, no momento do desfile, em uma visita de inspeção à cracolândia da favela do Jacarezinho, onde será erguido um centro de apoio.
A assessoria do TJ foi contatada por telefone, mas não retornou a ligação até o fechamento da matéria. A Alerj informou que Picciani nunca comparece à solenidade e que "tradicionalmente" é representado pelo deputado Paulo Ramos (PDT), policial militar reformado.
Idealização
Desde cedo, as crianças aprendem nas escolas que o feriado de 21 de abril marca o Dia de Tiradentes, um personagem da Inconfidência Mineira, movimento que aconteceu em Vila Rica, na então capitania de Minas Gerais, inspirado nos ideais da Revolução Francesa, e que por isso foi condenado e enforcado em 1792 no Rio de Janeiro.
O que muitos não sabem é que a imagem que vemos nos livros escolares de Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, é uma idealização de quem o retratou.
Segundo o historiador e pesquisador do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) de Minas Gerais, Olinto Rodrigues, as pinturas que retratam Tiradentes com barba e cabelos nos ombros foram inspiradas em Jesus Cristo.
"Provavelmente essa não é a imagem de Tiradentes. Ele, quando foi enforcado, vestia roupa branca, mas deve ter sido conduzido à forca com a cabeça e barba raspadas, o que era comum aos enforcados na época", explicou o historiador.
Segundo ele, não é possível reconstruir a imagem fiel de Tiradentes, já que não há pinturas anteriores ao enforcamento que o identifiquem.
Joaquim José da Silva Xavier ficou conhecido como Tiradentes por ter exercido a profissão de dentista. Foi preso depois de se envolver no movimento chamado de Inconfidência Mineira que tinha, entre os seus objetivos, o de estabelecer um governo republicano independente de Portugal.
O historiador Olinto Rodrigues explica que a Inconfidência Mineira foi um movimento localizado, que abrangia principalmente Minas Gerais e o Rio de Janeiro. "Pretendia-se um governo republicano primeiro em Minas Gerais, talvez com Rio de Janeiro e São Paulo. Essa ideia de um país homogêneo surgiu apenas a partir do Segundo Reinado."
Depois de ser preso, Tiradentes negou inicialmente a participação no movimento, depois foi o único a assumir toda a responsabilidade pela inconfidência. O processo contra os inconfidentes durou três anos e, ao final, apenas ele permaneceu com sentença de morte.
A leitura da sentença de Tiradentes estendeu-se por 18 horas, seguida de cortejo com fanfarra. Há historiadores que apontam que essa movimentação despertou a raiva da população, o que teria contribuído para preservar a memória de Tiradentes. Executado e esquartejado, sua cabeça foi erguida em um poste, depois desapareceu e nunca mais foi localizada.
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