Sócio de boate defendia 'quanto mais gente, melhor', diz ex-funcionária
Ex-funcionária da boate Kiss, Vanessa Gisele Vasconcellos afirmou, em depoimento à Polícia Civil, que o sócio da casa noturna Elissandro Spohr mantinha a postura de "quanto mais gente, melhor" em relação ao local.
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Vanessa trabalhou no local entre dezembro de 2010 e dezembro de 2012. Atuava como relações públicas da casa. Sua irmã, Letícia Vasconcellos, foi uma das vítimas do incêndio.
Ouvida como testemunha pela polícia, a ex-funcionária afirmou ainda que, por orientação de Spohr, a casa chegou a receber mais de 1.800 pessoas em algumas ocasiões. Segundo a investigação, a capacidade máxima da boate era de 619 pessoas.
Também ouvidos no inquérito, outros dois funcionários da boate e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, esses últimos presos por suspeita de responsabilidade pelas mortes, disseram haver entre 900 e 1.500 pessoas na casa noturna no dia do incêndio.
Em depoimento, Vanessa ainda disse que um aviso de saída mal posicionado pode ter provocado o direcionamento errado de dezenas de pessoas ao banheiro da boate. A testemunha contou que outro funcionário afirmou, após a tragédia, que o aviso de saída estava mal posicionado entre os banheiros e a saída de fato da boate, o que pode ter enganado as vítimas que buscavam deixar o local em meio à fumaça e ao caos que havia se instalado no local.
O advogado Jader Marques, que representa o sócio Elissandro Spohr, 28, afirmou ontem que os proprietários revestiram por conta própria o teto do estabelecimento em cima do isolamento acústico. Segundo testemunhas, foi no teto que começou o incêndio, após um integrante da banda usar um sinalizador.
Apesar dos pontos apurados pela polícia, o advogado nega a superlotação do local e afirma que "não havia nada de irregular" na casa noturna e que ela estava em plenas condições de funcionamento.
EXTINTORES
O depoimento de Vanessa também cita a questão da estrutura de combate a incêndios da casa. Ela disse que não ter visto mais extintores na boate desde uma reforma feita no ano passado.
Afirmou que Spohr fazia reformas no local com frequência e, desde a última obra de renovação, ela diz não ter observado mais os equipamentos de segurança.
Ainda de acordo com a ex-funcionária, o empresário procurava fazer tudo da maneira mais barata possível, incluindo as obras na casa noturna. "O que ele podia conseguir de graça, ele fazia", contou.
Enquanto ainda trabalhava na Kiss, Vanessa era responsável por fazer o site da casa noturna. Ela afirmou à polícia que, na última versão da página, Kiko comentou que as fotos estavam ótimas, mas era uma pena que os extintores de incêndio estivessem aparecendo, já que eles deixavam o local "feio".
INCÊNDIO
O incêndio aconteceu na madrugada de domingo (27) na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 236 pessoas morreram e outras 124 permanecem internadas.
O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.
Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.
Editoria de Arte/Folhapress |
A maioria das vítimas morreu por asfixia durante a festa promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.
No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.
A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia.
A direção da boate Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".
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