Funcionários de parque do PR confessaram estupro sob tortura, dizem advogados
Os funcionários de um parque de diversões do Paraná, indiciados sob suspeita de estupro e homicídio de uma adolescente de 14 anos, foram torturados para que confessassem, afirmaram advogados nesta quarta-feira (10).
Eles são acusados da morte de Tayná Adriane da Silva, cujo corpo foi encontrado no dia 28, próximo ao parque em que trabalhavam. O local foi destruído após a prisão dos suspeitos.
Um grupo de advogados visitou ontem os quatro acusados, presos desde o dia 27, após uma denúncia da defesa. Entre eles, estavam membros da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil) e do Conselho Penitenciário do Paraná.
"Não há dúvida alguma [da tortura]. Eles inclusive apresentam marcas disso", diz o advogado Dalio Zippin Filho, membro do Conselho Penitenciário do Paraná. "Eu me sinto constrangida em falar o que me foi contado. Eu os enxergo como vítimas", afirma a advogada Isabel Kügler Mendes, integrante da coordenação internacional de Direitos Humanos da OAB Nacional.
Reprodução/RPC TV |
Tayná da Silva, 14, foi estuprada e morta |
Segundo eles, os rapazes, com idades entre 22 e 25 anos, disseram que foram espancados, empalados, asfixiados com sacos plásticos, eletrocutados e forçados a fazer sexo oral entre si. Um deles relatou ter tido a cabeça enfiada num formigueiro.
Um dos suspeitos está no Complexo Médico Penal, com suspeita de perfuração de órgãos abdominais. Ele estaria evacuando sangue.
Para o advogado Roberto Rolim de Moura Junior, que defende os acusados, a tortura invalida a confissão obtida pela polícia. Segundo ele, os quatro presos foram torturados por vários dias, em quatro delegacias e numa casa de custódia. "Primeiro, torturaram para que eles confessassem. Depois, para que mantivessem a confissão", afirmou à Folha. Ele pediu exame de corpo delito dos suspeitos.
A OAB-PR defende que as investigações sobre a tortura sejam deslocadas para a Justiça Federal, já que este é um caso de "grave violação aos direitos humanos".
O presidente da entidade, Juliano Breda, diz que há "provas inequívocas" de que os presos foram agredidos. "Não há dúvida alguma. Os relatos e as lesões foram realmente impressionantes", diz. "Nós estamos pedindo um esclarecimento urgente e imediato do governo do Estado."
Ele ressalta, porém, que isso não quer dizer que a OAB-PR considere os acusados inocentes. "Nós não estamos fazendo nenhum juízo de valor. Se foram ou não eles, cabe à polícia e ao Ministério Público investigar", disse.O advogado de defesa dos suspeitos pediu exame de corpo delito.
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná informou, em nota, que designou um delegado para apurar "possíveis violências" contra os acusados. "Caso haja comprovação de irregularidades durante a apuração do caso, os policiais podem responder administrativa e criminalmente, inclusive com a perda do cargo", diz a nota.
A Polícia Civil do Paraná afirmou que "o interesse da instituição é que a verdade seja esclarecida", e que "não admite desvios de função dentro da corporação".
LAUDO
Anteontem, um laudo do Instituto de Criminalística do Paraná apontou que o sêmen encontrado na adolescente não pertencia a nenhum dos suspeitos presos.
O documento, baseado em testes de DNA, ficou pronto após a conclusão do inquérito policial, que foi reaberto anteontem, a pedido do Ministério Público. Um novo delegado foi designado para o caso.
Os peritos agora nem sequer confirmam se Tayná foi de fato estuprada. A adolescente foi encontrada vestida. O corpo estava próximo a um terreno baldio vizinho ao parque de diversões, onde trabalhavam os quatro acusados, mas não estava enterrado, como haviam afirmado os acusados na delegacia.
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