Curso técnico vai atender moradores da floresta
Coração da floresta amazônica, nas margens do sinuoso rio Juruá, que segue do Amazonas rumo ao Acre. Ali, na chamada comunidade Bauana, a 800 km de Manaus, teve início o primeiro curso técnico para ribeirinhos que vivem na floresta.
A proposta da ONG ambientalista FAS (Fundação Amazonas Sustentável) é formar técnicos em produção sustentável em unidades de conservação (áreas em que populações tradicionais têm permissão para explorar a região sem desmatar).
Alunos levam rede e ficam alojados no local do curso
Os alunos são moradores da floresta. Em Bauana, há 19 famílias, que somam pouco mais de cem pessoas. Elas vivem em pequenos grupos, nas margens do rio Juruá.
O lugar é isolado: a reportagem viajou duas horas e meia de avião de Manaus até Carauari e mais cinco horas de lancha até o local.
Quem está no curso --o primeiro desse tipo na floresta-- será especialista no que a comunidade faz sem ter conhecimento técnico: coleta de castanha e de açaí e manejo de peixes como o pirarucu.
Eduardo Kanpp/Folhapress | ||
Barco-escola navega pelo rio Juruá, nas margens do local em que o curso técnico em produção sustentável é oferecido |
São 50 alunos na primeira turma, cujas aulas começaram há uma semana e seguirão por um ano e meio.
"Esses meninos concluíram o ensino médio sem nunca terem aprendido um conceito ligado ao dia a dia deles na floresta, como o manejo de pirarucu", diz o engenheiro florestal Virgílio Viana, superintendente geral da FAS.
Editoria de Arte/Folhapress |
Doutor pela Universidade Harvard, Viana recentemente assumiu o posto de coordenador de florestas na ONU.
Como todo bom ambientalista, ele sabe que manter a população extrativista na floresta é uma ótima alternativa para mantê-la em pé.
"Mas é preciso dar conhecimento técnico para essas pessoas", argumenta.
DISCIPLINAS
Esse conhecimento virá de aulas teóricas e práticas sobre produção sustentável, informática, português, instruções sobre como fazer planilhas e empreendedorismo.
"Tudo como em um curso técnico feito em Manaus", explica Joésia Moreira Julião Pacheco, diretora-geral do Cetam (Centro de Educação Tecnológica do Amazonas), responsável pelo curso.
O espaço, de fato, tem tudo: salas de aula, alojamento para alunos e docentes, biblioteca, laboratório de informática e refeitório -tudo funcionando com gerador.
Até agora, o gasto com a implantação do projeto foi de R$ 1,5 milhão. O dinheiro, obtido pela FAS, veio da empresa HRT, que explora petróleo na região amazônica.
A manutenção do espaço ficará por conta de parceiros que a FAS está buscando.
Os jornalistas SABINE RIGHETTI e EDUARDO KNAPP viajaram a convite da FAS (Fundação Amazonas Sustentável)
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