Especialistas defendem redução do uso de carro em São Paulo
O paulistano deve deixar mais o carro em casa. Essa é a opinião dos três especialistas que participaram, nesta quarta-feira (9) do painel "Eficiência no Transporte Urbano", no Fórum de Mobilidade Urbana promovido pela Folha, no Tucarena, em São Paulo.
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O ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, apontou para essa mudança de comportamento. "O carro vai ser o cigarro do futuro. É aceitável o uso do automóvel para uma viagem, para lazer, mas para uso diário, devemos priorizar cada vez mais o transporte publico", frisou.
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Quem fez coro a esta opção foi o secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. Para ele, além de reduzir o número de carros nas vias, é preciso dar mais flexibilidade aos horários de trabalho, reduzir as grandes viagens internas, dar preferência a transações bancárias via internet.
Na opinião dele, "é preciso também estimular as pessoas a caminhar e a pedalar mais, buscar novas rotas e modais além dos que já estão habituadas e o uso de carona."
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Lerner elogiou a política de priorizar os transportes públicos adotada por São Paulo, mas enfatizou que o sistema precisa ampliar a integração e a qualidade para superar a falta de vontade política. "São Paulo pode ser uma das maiores cidades a ter o melhor transporte público do mundo", diz.
Segundo o urbanista, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo deram grande passo ao reconhecer a prioridade do transporte público, mas é preciso dar um novo salto, que é sair da 'concepção de corredor' para 'concepção de rede'. "Haddad deve investir na transformação em dois grandes eixos, e o resultado é que vai convencer as pessoas a utilizar o transporte público", opina.
Lerner acredita que com o modelo do BRT (Bus Rapid Transit, em vigor há mais de 30 anos na capital paranaense) seja possível alcançar mais velocidade, capacidade e frequência de ônibus. "Hoje, 84% dos deslocamentos de São Paulo são realizados na superfície. Precisamos dar aos ônibus e táxis a mesma mobilidade do metrô e melhorar a integração do sistema como um todo".
ENTRAVES
Fernandes ressaltou que a mobilidade urbana atualmente baseia-se no tripé infraestrutura, planejamento urbano e mudanças comportamentais, tanto dos gestores, como dos usuários da mobilidade e do transporte público. "O planejamento urbano deve estar equilibrado às demandas de transporte público. Um bom exemplo é a zona sul de São Paulo, em que os estímulos a emprego e moradia se refletiram nos transportes", disse.
Foram destacados como entraves a falta de agilidade na liberação de licenças e outras burocracias. "Em contraponto, ao lançar 300 mil automóveis em São Paulo, que licenças foram cobradas pelo poder público?", questionou o secretário.
INDÚSTRIA
Quem também compôs o debate foi o presidente da Volvo Bus Latin America, Luís Carlos Pimenta, que destacou como tendência a implantação de ônibus elétricos. Segundo o empresário, o segmento tem investido fortemente em eletromobilidade.
No ano passado, foi lançado o primeiro ônibus híbrido elétrico em São Paulo, que permite renovação da energia e melhor rendimento se comparado ao biodiesel."As novas soluções nesse sentido buscam sustentabilidade ambiental e econômica. Os combustíveis fósseis serão cada vez mais escassos e a poluição urbana deve aumentar", disse.
INVESTIMENTOS
Com relação à Copa do Mundo, Lerner aponta uma falha no alvo dos investimentos, que deveriam priorizar mobilidade urbana e a infraestrutura aérea em vez da construção de novos estádios. "Estamos sendo muito subservientes à Fifa".
Os especialistas também são unânimes em criticar a maior destinação de incentivos do Governo Federal à industria automobilística. Segundo Fernandes, desde 2003 até agora, a inflação acumulada soma 83% (IPCA). No mesmo período, o diesel aumentou 94%, a gasolina, 44%, o preço do carro, 27%, e o do ônibus, 111%. "Com isso, as prefeituras é que sofrem com o congelamento das tarifas", disse.
Para Lerner, a redução do custo da tarifa é uma solução política e que depende da derrubada de barreiras burocráticas. "Elas geram corrupção e só as grandes empresas conseguem vencê-las atualmente, o que cria um ciclo. Por isso é melhor investir em soluções como o BRT que ficar anos fazendo lobby para construir uma linha de metro com o mesmo custo".
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